Na noite de domingo, Rui Rio abriu a porta à saída da liderança do PSD, cargo que ocupa desde janeiro de 2018, caso viesse a confirmar-se a maioria absoluta do PS nas eleições legislativas (o que aconteceu), considerando que dificilmente seria útil nessa conjuntura, sem, contudo, verbalizar explicitamente a sua demissão nem adiantar que passos iria dar internamente.
Na quarta-feira, no final de uma audiência com o Presidente da República, Rio recusou-se a adiantar mais antes da discussão interna de hoje no partido, mas deu a entender que o processo poderá demorar alguns meses, já que assegurou que, além de tomar posse como deputado, irá estar “de certeza absoluta” como presidente do PSD na discussão e votação do Orçamento do Estado de 2022, que dificilmente estará concluído antes de março/abril.
“No Orçamento de 22 eu vou estar de certeza absoluta, eu já disse que não sou de espetáculos, não contem que na quinta diga que me vou embora e na sexta já não estou cá”, avisou.
Questionado como viu o seu vice-presidente Salvador Malheiro apontar Luís Montenegro como alguém com boas condições para lhe suceder como presidente do PSD, Rio respondeu: “Ver, não vi, mas contaram-me. Tudo aquilo que tem a ver com a vida interna do partido deverá ser debatido, na minha opinião, dentro do partido”.
“É isso que vou fazer a partir de amanhã [quinta-feira], espero que todos façam o mesmo em nome da dignidade do próprio partido para dar uma imagem madura e adulta sem grandes histerias”, afirmou, num aparente conselho de ‘recato’ aos dirigentes do partido.
Rui Rio prometeu que, no final da reunião, que terá lugar, a partir das 15:00, num hotel em Lisboa, responderá a todas as perguntas sobre a vida interna do partido.
Na reunião da CPN, deverá estar em cima da mesa a marcação de uma reunião do Conselho Nacional, o órgão máximo entre Congressos, e o único que pode convocar novas eleições diretas para escolher o próximo presidente do PSD e um Congresso.
Se do lado da direção se pede calma e ponderação, o mesmo tom tem sido seguido por quem já disputou a liderança com o atual presidente.
Miguel Pinto Luz foi o único a falar publicamente, dizendo que o PSD precisa de fazer uma reflexão “séria e profunda” e não “um desfile de protocandidatos”, remetendo para depois da discussão na CPN qualquer declaração sobre uma eventual candidatura, que já protagonizou em 2020.
Luís Montenegro, que também foi candidato na mesma ocasião, e Paulo Rangel, que disputou as diretas de novembro passado, têm-se mantido em silêncio, bem como Jorge Moreira da Silva, que ponderou no ano passado concorrer à liderança do PSD, mas acabou por não avançar.
Rui Rio foi eleito presidente do PSD, pela primeira vez, em eleições diretas realizadas em 13 de janeiro de 2018, derrotando Pedro Santana Lopes por 54% dos votos.
Em janeiro de 2020, Rio enfrentou dois candidatos: Miguel Pinto Luz, que ficou pela primeira volta com menos de 10% dos votos, e Luís Montenegro que forçou uma inédita segunda volta no PSD. O atual presidente sairia vencedor por cerca de 53%.
Em 27 de novembro do ano passado - as diretas e Congresso foram ligeiramente antecipados devido à proximidade das legislativas de 30 de janeiro -, Rui Rio foi a votos com o eurodeputado Paulo Rangel e a vitória ainda foi mais curta, por 52,4% dos votos, num mandato que teoricamente se estenderia até ao final de 2023.
De acordo com os resultados provisórios das legislativas de domingo (e que ainda não incluem os quatro deputados eleitos pela emigração), o PSD conseguiu 27,8% dos votos e 71 deputados sozinho, subindo para 76 deputados e cerca de 29% do total dos votos somando os valores obtidos nas coligações de que fez parte na Madeira e dos Açores.
Ainda assim, quando se somarem os deputados da emigração, o PSD deverá ficar abaixo dos 79 que tem atualmente e ficou a mais de 13 pontos percentuais do PS, que teve a segunda maioria absoluta da sua história.
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