O Secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, declarou numa conferência de segurança na cidade-estado que a China está pronta para usar a força para dominar partes da Ásia.

Hegseth alertou que Pequim está “credivelmente a preparar-se” para usar força militar com o objetivo de alterar o equilíbrio de poder na Ásia, assegurando que os Estados Unidos estão “aqui para ficar” na região.

O responsável do Pentágono fez estas declarações durante o Fórum de Segurança de Shangri-La, um encontro anual em Singapura, numa altura em que a administração do Presidente Donald Trump confronta Pequim em várias frentes — do comércio à tecnologia e à influência geoestratégica.

Representantes chineses presentes criticaram fortemente o discurso, classificando-o como “acusações infundadas fabricadas do nada”.

Desde que tomou posse, Trump iniciou uma guerra comercial com a China, impôs restrições ao acesso chinês a tecnologias-chave de inteligência artificial e aprofundou laços de segurança com aliados como as Filipinas, envolvidas em disputas territoriais com Pequim.

“O perigo que a China representa é real e pode ser iminente”, afirmou Hegseth no fórum, perante representantes de defesa de todo o mundo.

Segundo o secretário, o exército chinês está a construir capacidades para invadir Taiwan e a “ensaiar para o momento real”.

A China tem intensificado a pressão militar sobre Taiwan, incluindo com grandes exercícios em redor da ilha, frequentemente descritos como preparações para um bloqueio ou invasão.

Hegseth afirmou que os EUA estão a “reorientar-se para dissuadir a agressão da China comunista”, apelando aos aliados na Ásia para reforçarem rapidamente as suas defesas perante ameaças crescentes.

“A semear conflitos”

Descrevendo o comportamento da China como um “alerta”, o chefe do Pentágono acusou Pequim de colocar vidas em risco através de ciberataques, assediar vizinhos e “tomar e militarizar ilegalmente” territórios disputados no Mar do Sul da China.

Pequim reivindica praticamente todo o mar, por onde passa mais de 60% do comércio marítimo global, apesar de um parecer internacional considerar que essas reivindicações não têm fundamento.

Nos últimos meses, têm-se multiplicado os confrontos com as Filipinas nessas águas estratégicas — tema que, segundo fontes norte-americanas, deverá dominar as discussões no fórum de Singapura.

Enquanto Hegseth discursava, o exército chinês anunciou que a marinha e a força aérea estavam a realizar patrulhas de prontidão de combate em torno do Atol de Scarborough, um ponto de tensão disputado com Manila.

A China não enviou qualquer alto responsável do ministério da Defesa à cimeira, delegando a participação a uma equipa da Universidade Nacional de Defesa do Exército de Libertação Popular, liderada pelo contra-almirante Hu Gangfeng.

Sem mencionar Hegseth pelo nome, Hu declarou que os comentários feitos visavam essencialmente “semear conflitos, criar divisões, incitar confrontos e desestabilizar a região Ásia-Pacífico”.

“Contrariam a tendência dominante, são impopulares — e estão condenados ao fracasso”, afirmou durante um painel de discussão.

As palavras de Hegseth também foram criticadas por analistas chineses presentes na conferência.

Da Wei, diretor do Centro de Segurança Internacional e Estratégia da Universidade Tsinghua, disse aos jornalistas que o discurso foi “muito hostil” e “muito confrontacional”, acusando Washington de ter dois pesos e duas medidas ao exigir respeito por parte de Pequim pelos seus vizinhos, enquanto “intimida os seus próprios” — incluindo o Canadá e a Gronelândia.

As declarações surgem depois de Trump ter reacendido tensões comerciais com a China, acusando-a de ter “violado” um acordo para aliviar tarifas, num momento em que as negociações bilaterais pareciam bloqueadas.

As duas maiores economias do mundo tinham concordado numa trégua temporária, com redução mútua de tarifas por 90 dias.

“Não pode dominar”

Procurando tranquilizar os aliados, Hegseth reforçou que a região Ásia-Pacífico é “a prioridade estratégica dos EUA”, prometendo garantir que “a China não poderá dominar-nos — nem aos nossos aliados e parceiros”.

Disse ainda que os Estados Unidos reforçaram a cooperação com aliados como as Filipinas e o Japão, e reiterou a promessa de Trump de que “a China não invadirá Taiwan sob a sua presidência”.

No entanto, apelou aos parceiros da região para aumentarem o investimento nas suas forças armadas e “modernizarem rapidamente as suas defesas”.

“Os aliados asiáticos devem inspirar-se na Europa”, disse Hegseth, referindo-se aos compromissos de países como a Alemanha para atingirem a meta de Trump de gastar 5% do PIB em defesa.

“A dissuasão não é barata.”