Na província de Iça (sul), um piquete de manifestantes forçou hoje as instalações de várias empresas agroalimentares e impediu a entrada dos trabalhadores, indicaram ‘media’ locais.
Diversos postos de vigilância foram destruídos, enquanto o Provedor do Povo, entidade governamental que representa os cidadãos perante o Estado, condenou nas redes sociais os “atos de violência” contra terras de cultivo nessa província.
Os manifestantes antigovernamentais continuam a exigir a destituição da Presidente Dina Boluarte, que tomou posse após a detenção do antigo chefe de Estado Pedro Castillo – acusado de tentar dissolver o parlamento -, a antecipação das eleições para 2023 e a convocação de uma assembleia constituinte.
Na região amazónica de Madre de Dios, habitantes locais citados pela agência noticiosa Efe referiram que se regista uma escassez de produtos, incluindo combustível, gás, legumes e frutas, uma situação que se estende a outras regiões do país andino.
O ministério dos Transportes e Comunicações referiu hoje que uma dezena de regiões do Peru se encontram abrangidas pelos cortes de estradas, com Puno, Cuzco e Madre de Dios a registarem os principais bloqueios.
O Provedor do Povo refere-se a 45 mortos nos confrontos com as forças policiais e militares, enquanto um polícia também foi vítima dos protestos, números contestados pelos ativistas, que se referem a pelo menos 59 mortos.
Organizações não-governamentais também denunciaram a morte de quatro haitianos que não puderem receber assistência médica devido aos bloqueios de estradas, de uma grávida que perdeu o filho por não chegar a tempo ao hospital, enquanto a polícia se referia a duas vítimas na província de La Libertad (norte).
Em paralelo, o ministro do Interior peruano, Vicente Romero, assegurou hoje que a violenta ação da Polícia nacional (PNP) no sábado, com o derrube dos portões, na Universidade Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM), uma instituição pública na capital, Lima, foi efetuada a pedido das autoridades e devido a “delitos” de alguns manifestantes que ocupavam as instalações e associados a “terroristas” pelos responsáveis policiais.
Em entrevista à rádio RPP Noticias, Romero indicou que na sexta-feira “foi feita uma denúncia pela entrada de 300 pessoas de forma violenta, que expulsaram os seguranças, lhes retiraram as comunicações e fecharam com cadeados as nove portas de entrada”.
O ministro também justificou a ação “por ser cometido um delito e em situação de estado de emergência”.
No domingo, este centro universitário contrariou as afirmações ministeriais ao considerar que a ação de despejo pela PNP, dirigida aos manifestantes que acampavam no recinto, foi um “abuso de autoridade” e disse que a ação policial foi efetuada sem a presença do Ministério Público.
“Em evidente uso da força, a polícia ingressou no campus universitário sem a presença do Provedor do Povo nem do Ministério Público. Denunciamos o abuso da autoridade contra os nossos estudantes arbitrariamente reprimidos”, indicou em comunicado o Gabinete de Imagem da UNMSM.
Apesar de contestar a ação de ocupação por estudantes e manifestantes, a universidade também repudiou a intervenção da Direção Contra o Terrorismo (Dircote) “que teve como efeito danos materiais na infraestrutura e consequências físicas e psicológicas na comunidade de residentes”.
A operação terminou com a detenção de 193 pessoas, entre manifestantes e estudantes, a maioria libertada no domingo.
A crise política que abala o Peru é também reflexo do enorme fosso entre a capital e as províncias pobres que apoiam o ex-Presidente Castillo, de origem ameríndia, e que nunca foi aceite no Palácio Presidencial pela elite e a oligarquia da capital, e pelos principais ‘media’, na posse de abastados empresários.
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