Jordan, professor de ciência da computação na Universidade da Califórnia, em Berkeley, estava a responder a alegações de figuras da indústria como Sam Altman, CEO da OpenAI, e Dario Amodei, da Anthropic, que acreditam que a inteligência artificial geral (AGI) está a apenas alguns anos de distância.
A AGI é o cobiçado "Santo Graal" da investigação em IA que supostamente superará os humanos em todos os campos.
"Essa super AGI que pode responder a qualquer pergunta, sabe tudo... isso é um absurdo", disse Jordan, especialista em "machine learning" e estatística, numa conferência de IA na prestigiosa Escola de Engenharia Politécnica, na França.
Jordan criticou o facto de as empresas estarem a gastar "milhares de milhões" para atingir o que disse ser, por enquanto, uma meta ilusória.
Os modelos de IA atuais podem "prever muito, muito bem" graças ao seu acesso a grandes quantidades de dados gerados por humanos, inclusive da internet, disse Jordan.
Mas a IA "não pode saber tudo, porque o que estou a pensar agora é o contexto do que farei em seguida, hoje. Ela não pode saber disso", ele acrescentou.
"E se não sabe, não pode me dar bons conselhos", concluiu.
Os grandes modelos de linguagem (LLM) que alimentam chatbots de IA, como o ChatGPT, são como "um bando de pequenos especialistas" capazes de responder a perguntas altamente específicas, mas "não são entidades inteligentes".
Jordan caracterizou os desenvolvimentos atuais em IA como "um novo campo emergente da engenharia, como a engenharia civil", mas trabalhando com "decisões humanas, dados e fluxos em rede".
"Não creio que tenha havido uma era na história da humanidade em que um novo campo de tecnologia tenha surgido com tanto entusiasmo e histeria", acrescentou.
O debate sobre se a AGI é realista e se pode ser uma ameaça à humanidade se os seus criadores perderem o controlo é uma das principais controvérsias entre cientistas e programadores.
Cimeira de IA em Paris começa com encontros científicos
Especialistas globais vão discutir as ameaças representadas pela inteligência artificial (IA) numa reunião em Paris esta quinta e sexta-feira, antes de uma cimeira de líderes mundiais.
Milhares de pessoas são esperadas no evento, que tem como objetivo encontrar um ponto comum para uma tecnologia que revolucionou muitos setores empresariais em menos de dois anos, além de manter França e Europa no mapa como concorrentes confiáveis na corrida da IA.
Esta é a terceira cimeira dedicada a esta tecnologia, depois das realizadas no Reino Unido e na Coreia. Na América Latina, uma reunião ministerial foi realizada em agosto de 2024 em Cartagena das Índias, Colômbia.
Em Paris, cientistas como Yann LeCun, chefe de IA da gigante Meta (Facebook), discutirão o impacto desse avanço revolucionário em áreas como trabalho, saúde e sustentabilidade, a partir desta quinta-feira na Escola de Engenharia Politécnica de Paris.
LeCun é um dos pais da nova geração de IA e, tal como outros 20 investigadores de alto nível, jantou com o presidente francês Emmanuel Macron na quarta-feira, informou o Palácio do Eliseu.
Macron deve reunir-se com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Bin Zayed Al Nahyan, nesta quinta-feira, uma reunião que pode levar a anúncios.
Discussões sobre o impacto da IA na cultura ocorrerão no sábado e domingo, antes dos chefes de Estado e de governo de cerca de 100 países e líderes globais da indústria de tecnologia se reúnam na segunda e terça-feira.
DeepSeek convidado
Entre os participantes notáveis estão o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Guoqing, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, é co-organizador da cimeira, enquanto Macron procura envolver os países emergentes do Sul numa batalha tecnológica que está a ser travada em grande parte entre os Estados Unidos e a China.
Do lado empresarial, o proprietário da Tesla e do X, Elon Musk, ainda não confirmou a sua presença, assim como Liang Wengfeng, fundador da start-up chinesa DeepSeek, que surpreendeu o mundo na semana passada com seu modelo R1 de alto desempenho e baixo consumo de energia.
Figuras americanas como Sam Altman, da OpenAI, e Dario Amodei, da Anthropic, assim como Arthur Mensch, da desenvolvedora de IA francesa Mistral, participarão da reunião.
Na ciência, LeCun, da Meta, será acompanhado por figuras como Demis Hassabis, ganhador do Prêmio Nobel de Química e chefe do laboratório de pesquisa de IA DeepMind do Google, assim como pelo pesquisador de aprendizagem automática da Berkeley, Michael Jordan.
Os grandes atores da inteligência artificial no mundo
Após o lançamento do ChatGPT no final de 2022, a Inteligência Artificial (IA) generativa foi rapidamente implantada em grandes empresas dos EUA, começam a aparecer rivais europeus e chineses.
OpenAI, a pioneira
A OpenAI, empresa americana na vanguarda da IA generativa, fez nome ao lançar o ChatGPT, o chatbot (robot de conversação).
A ferramenta, que democratizou o uso da IA, atraiu investimentos espetaculares.
Desde sua criação, a OpenAI levantou cerca de 20 mil milhões de dólares em investimentos, principalmente da gigante Microsoft, a sua principal acionista.
De acordo com informações do Wall Street Journal no final de janeiro, a start-up está em negociações para levantar mais 40 mil milhões.
Sam Altman, cofundador da OpenAI, preside a empresa, apesar de ter sido demitido por um curto período.
A OpenAI é uma empresa registada sem fins lucrativos, que está a mover-se em direção a uma mudança de governança para se tornar uma empresa com fins lucrativos.
Anthropic, a rival americana
Fundada em 2021 por Dario e Daniela Amodei, dois ex-membros da OpenAI, a Anthropic afirma que o seu modelo de IA, Claude, tem barreiras de segurança mais rígidas do que seus concorrentes.
Embora a empresa não tenha conseguido atrair tanto capital quanto a OpenAI, está a atrair o interesse de grandes empresas de tecnologia.
No final de novembro, a Amazon investiu quatro mil milhões de dólares, elevando o seu investimento total para oito mil milhões.
A Anthropic levantou fundos no total de 12,9 mil milhões de dólares desde a sua criação, incluindo mais de três mil milhões da Alphabet, a empresa matriz do Google.
Google Deepmind, MetaAI, o peso dos gigantes
A chegada do ChatGPT aguçou o apetite dos gigantes da tecnologia, que embarcaram numa corrida rumo à inovação com meios financeiros colossais.
Em fevereiro de 2023, a Meta abriu o seu modelo Llama para investigadores, antes de evoluir para o Llama 2 e depois para o Llama 3, e promover a sua ferramenta de conversação MetaAI nas plataformas do grupo (Facebook, Instagram, Whatsapp e Threads).
Uma interface que permanece inacessível na Europa, devido a um quadro regulamentar “incerto”.
O presidente da empresa, Mark Zuckerberg, anunciou no final de janeiro a sua intenção de investir até 65 mil milhões de dólares por ano, principalmente em IA.
Na esteira da OpenAI, o Google lançou em março de 2023 o Bard, a sua ferramenta de conversação aberta ao público, que em fevereiro de 2024, após uma evolução do modelo, passou a chamar-se Gemini.
“Não divulgamos números precisos” sobre os valores totais investidos em IA, disse Demis Hassabis, chefe da subsidiária Deepmind do Google, especializada em investigação de inteligência artificial, em abril de 2024.
Mistral AI, a aposta francesa
Fundada por vários investigadores franceses (Arthur Mensch, Guillaume Lample e Timothée Lacroix) que trabalharam nos laboratórios de investigação de gigantes dos EUA, a Mistral entrou no cenário da IA em maio de 2023.
A equipa dessa startup, então desconhecida do público em geral, anunciou uma primeira captação de recursos de 100 milhões de euros e imediatamente posicionou-se como uma alternativa europeia aos gigantes dos EUA.
A sua ferramenta de conversação, chamada “Le Chat”, foi lançada em fevereiro de 2024.
Ao mesmo tempo, a empresa revela uma parceria com a Microsoft, que está a fazer um investimento de 15 milhões de euros.
Em meados de janeiro, a AFP e a Mistral anunciaram um acordo que permite que o robot conversacional da startup utilize as notícias da agência para responder às solicitações dos seus utilizadores.
Alguns dias depois, na reunião da cimeira de Davos, a empresa indicou que estava a considerar a possibilidade de entrar no mercado de ações para manter sua independência.
No total, a startup francesa arrecadou mais de mil milhões de euros.
A onda de choque da Deepseek
A start-up chinesa Deepseek revelou o seu robot de conversação R1 no final de janeiro, o que marcou uma entrada dramática no cenário global de IA e fez com que as avaliações do mercado de ações de vários gigantes dos EUA, incluindo a fabricante de chips Nvidia, caíssem.
A causa? O custo mínimo desse novo jogador.
A Deepseek disse que gastou apenas 5,6 milhões de dólares para desenvolver o seu modelo, um valor muito distante dos padrões dos EUA.
Sam Altman, da OpenAI, disse estar “impressionado”, mas também “rejuvenescido” pela concorrência.
A sua empresa, no entanto, acusou “empresas chinesas e outras” de copiar modelos de IA desenvolvidos por empresas americanas.
Alibaba, um novo gigante na corrida
O gigante chinês do comércio eletrónico Alibaba, o mais recente participante na corrida pelas ferramentas de conversação, lançou o Qwen2.5-Max.
Apenas disponível para programadores por enquanto, o modelo avançado de Inteligência Artificial seria capaz de superar as capacidades dos modelos existentes, de acordo com o grupo.
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