“Ninguém tem o poder de expulsar o povo de Gaza da sua terra natal eterna, que existe há milhares de anos”, declarou numa conferência de imprensa a avançadas horas da noite no aeroporto de Istambul, antes de voar para a Malásia.

“Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental pertencem aos palestinianos”, insistiu.

Trump propôs expulsar mais de dois milhões de pessoas que vivem na Faixa de Gaza e transformá-la numa “Riviera do Médio Oriente”, gerando protestos globais, sobretudo no mundo árabe.

O Presidente dos Estados Unidos anunciou a sua ideia na terça-feira, numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que a saudou como “a primeira boa ideia” que ouviu sobre o que pós-guerra no enclave devastado.

No entanto, para o Presidente turco, isso não tem qualquer valor: “As propostas sobre Gaza apresentadas pelo novo Governo dos Estados Unidos sob pressão da liderança sionista não valem a pena ser discutidas “, observou.

Numa entrevista à televisão palestiniana, o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Hakan Fidan, também afastou hoje a ideia de forçar os palestinianos a abandonar a Faixa de Gaza.

“A deslocação de palestinianos é inaceitável”, declarou, citado pela agência de notícias Anadolu.

Donald Trump, que tomou posse em 20 de janeiro para um novo mandato, disse que tornaria o território “incrível”, sugerindo enviar os habitantes para os países vizinhos, Jordânia e Egito, que já recusaram a ideia.

O primeiro-ministro israelita classificou hoje a proposta como “revolucionária e criativa” e disse regressar de Washington com “enormes conquistas” para a segurança do país.

O líder israelita disse que Donald Trump estava “muito empenhado em implementá-la” e que as conversações produziram “resultados extraordinários”.

Netanyahu voltou hoje a Telavive depois de ter passado mais de uma semana nos Estados Unidos e convocou uma reunião do Gabinete do Governo para esta noite e outra do Gabinete de Segurança para terça-feira,

No seguimento de uma visita que descreveu como “histórica”, o chefe do Governo referiu-se a “enormes conquistas que podem garantir a segurança de Israel durante gerações”, num momento em que as forças israelitas intensificaram as suas operações militares na Cisjordânia ocupada.

Na próxima semana, espera-se também a continuação das negociações com o grupo islamita palestiniano Hamas sobre o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

“Há aqui oportunidades para possibilidades que penso que nunca teríamos sonhado, ou que até há alguns meses pareciam impossíveis, mas são possíveis”, acrescentou Netanyahu numa declaração posterior.

Segundo o primeiro-ministro, estas conquistas estão relacionadas com as “questões-chave” que Israel enfrenta, embora não tenha adiantado pormenores.

No entanto, indicou que os dois líderes tinham concordado que os seus objetivos da guerra devem ser cumpridos, elencando a eliminação do Hamas, a recuperação dos reféns em posse do grupo armado palestiniano, o regresso dos deslocados israelitas às zonas visadas pelo grupo libanês Hezbollah “e, claro, impedir o Irão de obter armas nucleares”.

A primeira fase do acordo com o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro com a duração de seis semanas e deverá permitir a libertação de 33 reféns em troca de mais de 1.900 palestinianos detidos por Israel e o reforço da ajuda humanitária ao território.

A segunda fase tem como objetivo a libertação dos últimos reféns e o fim definitivo das hostilidades e a terceira, ainda incerta, deverá definir os termos da reconstrução da Faixa de Gaza e da sua governação no futuro.

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas em Israel em 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala, que provocou mais de 47 mil mortos, na maioria civis, e a destruição da maioria das infraestruturas do enclave, segundo as autoridades locais, controladas pelo Hamas desde 2007.

O conflito também provocou cerca de 1,9 milhões de deslocados, de acordo com a ONU.