“Está tudo a resultar tal como esperávamos? Não. Porque existe um atraso global na produção de vacinas”, reconheceu Alberto Fernández, durante uma mensagem à rede nacional de rádio e TV.
A mensagem chega num momento em que a própria ministra da Saúde, Carla Vizzotti, admitiu que o Governo está a ponderar alargar a quantidade de dias entre a primeira e a segunda dose para poder vacinar um maior número de pessoas.
A maioria dos especialistas na Argentina acredita que a segunda vaga de contágios chegue até o final de abril e advertem para os efeitos num país que vacina pouco e lentamente.
Nas últimas 24 horas, a Argentina registou 8.328 novos casos e 155 mortes. No total 3.522 pessoas estão em cuidados intensivos. Nos últimos 14 dias, os contágios aumentaram 18,5% e o número de mortes 8,7%.
Com uma população de cerca de 45 milhões de habitantes, o país registou desde o início da pandemia 2,227 milhões contágios e 54.387 óbitos.
“Assinamos contratos de compra para mais de 65 milhões de doses, mas, assim como acontece no mundo todo, as vacinas estão a demorar em chegar. Os nossos fornecedores tiveram dificuldades de produção. Inclusive os países mais ricos tiveram tensões com os fornecedores. Até agora, chegaram ao país quatro milhões de doses, 6% do que contratamos”, justificou Alberto Fernández.
O governador do Distrito Federal de Buenos Aires, Horacio Larreta, advertiu que as poucas vacinas que tem na capital do país esgotam-se neste fim-de-semana.
Na América Latina, o Chile lidera o processo de vacinação com 5,424 milhões de pessoas vacinadas, equivalentes a 27,6% da população, incluindo todos os grupos de risco do país. Na Argentina, apenas 2,17 milhões, equivalentes a 4,8% da população, segundo a organização Our World In Data ligada à Universidade de Oxford.
Em dezembro, o Presidente argentino anunciou que, por esta altura, 24 milhões de pessoas estariam vacinadas.
“Só 18 países receberam 88% das vacinas distribuídas até agora. A grande maioria dos países está num grande deserto com poucas vacinas ou sem nenhum acesso a elas. Somente 15 países receberam até agora mais de 10% das vacinas que compraram. Esta é a realidade do mundo: escassez, desigualdade e demora”, ilustrou o Presidente argentino.
O maior temor é quanto a uma possível circulação comunitária da variante brasileira, a que mais fácil pode chegar ao país através dos cerca de 7.500 argentinos que estão como turistas no Brasil. Os turistas estrangeiros estão proibidos de entrar na Argentina, mas os argentinos podem voltar, apenas por via aérea, embora o Governo tenha diminuído a frequência de voos.
Perante a escassez de vacinas e a chegada de uma nova onda que se avizinha, o maior temor da Argentina é ter de anunciar um novo isolamento obrigatório, a exemplo do aplicado há exatamente um ano. Aquela quarentena argentina durou 233 dias, quase oito meses, entre 20 de março e 09 de novembro, provocando uma queda de 10% na economia e elevando a pobreza a 45% da população.
“Conheço muito bem as consequências económicas e sociais da pandemia. Devemos extremar os cuidados para que a covid não nos volte a isolar. Se toda a sociedade se cuidar, vamos conseguir que o impacto da segunda onda seja o menos daninho possível”, apelou à população Alberto Fernández.
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