“Estamos preparados para o cenário de não acordo, mas não a 100% porque nunca podemos estar preparados a 100%”, reconheceu, admitindo que um ‘hard brexit’ “trará sempre dificuldades, sempre muitos problemas complexos à economia e à circulação de pessoas”, disse Augusto Santos Silva, em entrevista à Agência Lusa.

No entanto, “não havendo acordo, haverá sempre efeitos negativos, mas podemos mitigá-los”, afirmou, salientando que a crise política no Reino Unido está a preocupar todos os quadrantes políticos portugueses.

“Nós estamos muito preocupados, quer o Presidente da República, quer o primeiro-ministro”, e “não me canso de dizer que o ‘Brexit’ sem acordo terá efeitos muitíssimo negativos para o conjunto da UE”, mas “sobretudo para o Reino Unido”, pelo que “devemos evitar a todo o custo um cenário de saída não negociada”.

“Fomos até ao limite, como outros Estados da União Europeia, para encontrar um texto que satisfizesse todas as reivindicações dos negociadores britânicos, que respeitassem as nossas linhas vermelhas” e “o acordo parece-me muito razoável e muito satisfatório” até porque “é o único possível”, disse Santos Silva, admitindo que “agora a bola está do lado dos britânicos, para dizerem se apoiam ou não” essa proposta.

“O tempo urge, o relógio não para, aproximamo-nos perigosamente do dia 29 de março de 2019, e por isso mesmo há vários meses que seja no quadro nacional, seja no quadro europeu, nos preparamos para os dois cenários possíveis: o haver acordo e não haver acordo”.

No plano multilateral, a “Comissão Europeia fez um plano de contingência” que diz respeito a “questões transversais” a todos os países da UE.

“Depois, há evidentemente preparações que só fazem sentido no plano nacional: uma saída não negociada significa a reposição automática do controlo de fronteiras de mercadorias e pessoas”, explicou Santos Silva

No caso português, Lisboa “tem uma preocupação adicional específica em relação ao fluxo de turismo porque o Reino Unido para Portugal é o primeiro mercado de origem e para muitos outros [países da UE] não é”.

Na entrevista à Lusa, Santos Silva abordou também o fenómeno da desinformação, mostrando-se preocupado com a questão das ‘fake news’.

“Estou mesmo preocupado com a manipulação de pessoas e a invenção de mentiras, que também acontece em Portugal, felizmente não numa escala como noutras democracias se tem verificado”, afirmou Santos Silva.

Para o sociólogo, “quem frequenta as redes sociais percebe as tentativas recorrentes que há também em Portugal de lançar mentiras, calúnias e invenções querendo com isso produzir uma agenda política, normalmente anti-europeia, anti-humanista e anti-democrática”.

A solução é simples, disse: “Devemos combater claro, e a melhor maneira de combater é dizer a verdade, informar com verdade e rigor e isenção”.