O prémio Nobel da Paz foi hoje atribuído ao Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pelos seus esforços para pôr fim à guerra civil do país, que durou mais de 50 anos e matou pelo menos 220.000 colombianos, informou o Comité Nobel norueguês.
Em declarações à Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, disse que o Executivo português vê a decisão “com muita satisfação”.
“Em certo sentido, vem na continuidade da atribuição, no ano passado, do Nobel da Paz ao Quarteto para o Diálogo Nacional na Líbia. Premeia o esforço de personalidades ou instituições que procuram chegar à paz e consolidar o processo de pacificação por via negocial”, considerou o chefe da diplomacia portuguesa.
O ministro ressalvou que este processo de paz “ainda não chegou” ao fim, depois de o acordo entre o Estado colombiano e a guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) ter sido rejeitado, no domingo passado, num referendo.
“De qualquer modo, o esforço merece ser premiado”, mencionou.
Santos Silva afirmou ainda esperar que a distinção “contribua para motivar as partes para prosseguirem as negociações tendo em vista a paz”, acrescentando que todas as parte envolvidas – Estado, FARC e vencedores do referendo – já “foram unânimes em dizer que era preciso prosseguir com o processo de paz na Colômbia”.
O governante considerou ainda ser compreensível que o prémio tenha sido atribuído apenas ao Presidente Santos e não às FARC, alegando que as duas partes “não podem ser colocadas numa posição de equivalência”.
“De um lado temos o Estado democrático, com instituições determinadas pela soberania popular, e, do outro lado, uma força guerrilheira, cujas ligações e prática não podem ser comparadas com as das instituições democráticas”, sustentou.
Esta quinta-feira, o Conselho Superior de Defesa Nacional aprovou a participação portuguesa na missão das Nações Unidas (ONU) na Colômbia, uma missão que “estava preparada no contexto da implementação deste acordo de paz”, explicou Santos Silva.
O ministro referiu que “o afinamento da missão tem de aguardar agora pelos desenvolvimentos internos” naquele país, mas defendeu que a missão “continua a fazer todo o sentido”, até porque o cessar-fogo decidido pelos dois lados na Colômbia “está em pleno vigor”.
De acordo com o Comité Nobel norueguês, o prémio deve também ser visto "como um tributo ao povo colombiano, que apesar de grandes dificuldades e abusos, não perdeu a esperança de uma paz justa", assim como a todas as partes que contribuíram para o processo de paz.
"Este tributo é prestado, não menos importante, aos representantes das inúmeras vítimas da guerra civil", que fez mais de 220 mil mortos e seis milhões de deslocados.
Questionada pelos jornalistas sobre se o comité considerou atribuir o prémio a mais partes, nomeadamente ao líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a 26 de setembro assinou um acordo de paz histórico com Juan Manuel Santos, a presidente do Comité Nobel Norueguês escusou-se a comentar outros candidatos.
"Há muitas partes no processo de paz. O Presidente Santos tomou uma iniciativa histórica, ele dedicou-se completamente, com grande força de vontade, para alcançar o resultado", disse a presidente, Kaci Kullmann Five, acrescentando que o comité vê este prémio como "um forte encorajamento para todas as partes neste processo negocial".
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