No discurso na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República, a deputada do PEV Heloísa Apolónia disse que “ter pressa de cumprir Abril é ter sede de garantir direitos e níveis dignos e verdadeiros de bem-estar e de felicidade para um povo inteiro”.
“Nessa altura [25 de Abril], os avanços foram imensos, mas o problema foi o que depois em tanto se interrompeu esse avanço e até, em vários aspetos, se foi recuando”, considerou, dando o exemplo dos recuos na legislatura anterior, com o Governo PSD/CDS-PP.
Para Heloísa Apolónia, o aumento de horas de trabalho, o fim de feriados, a fragilização de serviços públicos, a fúria de entrega de setores fundamentais aos privados, os cortes nas pensões contributivas e nos apoios sociais, os cortes nos salários e o aumento brutal de impostos “foram recuos que geraram pobreza e ameaçaram seriamente os nossos níveis de desenvolvimento”.
“E deram-se por escolhas ideológicas, de uma direita que claramente privilegiou os grandes interesses económicos e financeiros e não o bem-estar dos cidadãos”, criticou.
Ao Governo atual, “Os Verdes” exigem “que governe para as pessoas, para o desenvolvimento do país e que não esbarre na obsessão de números bem encolhidos para Bruxelas”.
“Em política não há inevitabilidades, mas sim opções, escolhas. Por isso, nesta legislatura, depois de os eleitores terem atribuído a maioria dos deputados aos partidos que se tinham comprometido com a mudança, o Partido Ecologista Os Verdes trabalhou e tem contribuído para que sejam, sem hesitações, repostas condições e direitos aos portugueses que lhes tinham sido retirados”, justificou.
Heloísa Apolónia recordou os tantos “portugueses que procuraram refúgio noutros países para fugir à guerra colonial e outros para buscar melhores condições de vida”, considerando existir “mais do que a obrigação de compreender o imperativo de desprezar ideias fascistas, nacionalistas, racistas, xenófobas que erguem fronteiras de desumanidade, quando exaltam o medo de refugiados ou o ódio aos imigrantes”.
Quando se comemoram 43 anos da Revolução dos Cravos, “não se pode perder a dimensão da coragem que se revelou em todas as mulheres e homens que lutaram para construir Abril”, disse a deputada do PEV, considerando que “em jeito de apuramento de resultados, há ainda muito por conquistar em termos de direitos sociais e ambientais”.
“Mas, a União Europeia tem-se constituído um sério obstáculo a esse objetivo. Formando-se em torno de elites, servindo os interesses dos poderosos, distante dos povos, ignorando as suas necessidades, exigindo metas incompreensíveis”, condenou.
Heloísa Apolónia recordou e criticou “Salazar, o ditador fascista, que dizia que era muito mais urgente constituir elites do que ensinar o povo a ler, porque os problemas nacionais tinham de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites”.
“Era esse ditador que dizia que o jornal era o alimento intelectual do povo e que, como todos os demais alimentos, tinha de ser fiscalizado, considerando a censura mais do que legítima e até um elemento de elucidação e um corretivo necessário”, lembrou, citando Ary dos Santos que falava, na época da ditadura, de um “Portugal suicidado”.
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