Carlos Santos tem 42 anos e está desempregado. Na contabilidade das idades daqueles três concelhos é ainda um jovem, mas para muitos potenciais patrões já é “velho demais”.
A viver em Pedrógão Grande, os incêndios levaram-no a tomar uma decisão: “depois de ir aos funerais, a todos os que conseguir ir, vou procurar emprego fora daqui, em Lisboa, no Porto ou na França”.
Sem grandes qualificações, Carlos Santos trabalhou em serrações e em fábricas que já fecharam. Agora, sente que o futuro é “negro”, como “a cinza dos incêndios” e por isso quer partir.
“Estou divorciado. Aqui não tenho futuro”, desabafa, junto ao cemitério de Castanheira de Pera.
Os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos estão envelhecidos e com poucas oportunidades de emprego. “Agora é que vai ser o desafio, segurar as pessoas cá”, desabafa o presidente da Câmara de Castanheira de Pera.
No Nodeirinho, uma das aldeias mais duramente atingida pelo fogo e onde morreram 11 pessoas, um idoso reconhece que é cada vez mais difícil segurar os jovens. “Eles vão para fora estudar e depois não voltam. Não há nada para voltar”, reconhece Vítor Semedo.
Agora, com os funerais é a vez de chorar os mortos. “Vamos fazer o luto depois, nós não temos tempo e as nossas preocupações estão noutro patamar, que ainda não sentimos a falta dessas pessoas amigas, que viviam o dia a dia connosco e que partiram”, afirma Carlos David, presidente da associação humanitária de Bombeiros de Pedrógão Grande.
Baltazar Lopes, o homólogo de Castanheira de Pera que perdeu um elemento, concorda: “vamos agora, quando tudo passar, chorar e apoiarmo-nos uns aos outros, como sempre fizemos”.
Sónia Simões é de Castanheira de Pera, mas trabalha em Lisboa. Na terra não tinha emprego e nunca pensou sequer em procurar. “Aqui não há condições, só de fim de semana”.
Por estes dias, veio dar apoio à mãe e rever amigos, entre os quais o bombeiro que morreu. “Sou castanheirense com orgulho, mas não tenho condições para viver na minha terra”, desabafa.
Nem mesmo a construção da praia fluvial das Rocas, com uma piscina de ondas, gerou mais emprego na área do turismo. Há algum movimento de turistas, mas “as pessoas não ficam cá, chegam para uma noite ou duas e depois vão-se. Não ficam cá, só os restaurantes e os serviços da praia é que ganham”, disse António Sousa, reformado.
Apesar do desânimo, Carlos David não desarma e acredita que a região tem condições para atrair mais pessoas e mais emprego. “Somos portugueses de gema e não nos deixamos ir abaixo, vamos reconstruir o que foi perdido”, promete o presidente dos bombeiros de Pedrógão Grande.
Mas Carlos Santos não acredita: “Aqui não há futuro. Vivemos de quê e como? Com cem contos de ordenado? O melhor mesmo é sair”.
Reportagem: Paulo Jorge Agostinho / Lusa
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