Pedro Nuno Santos questionou no sábado o governo sobre se alguma empresa privada na área da consultoria esteve envolvida na elaboração do plano de emergência para a saúde, como foi contratada e a que informação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) teve acesso.
Horas depois, o governo respondeu e admitiu ter contratado uma consultora privada para “organizar e estruturar” o trabalho da 'task force' responsável pelo Plano de Emergência da Saúde, sublinhando que a empresa tem trabalhado com o Ministério da Saúde "nos últimos anos".
Numa nota enviada à Lusa, o gabinete da ministra da Saúde explica que “para organizar e estruturar os contributos/trabalho da task force foi contratada uma consultora privada, a IQVIA Solutions, que faz parte da bolsa de consultoras que tem trabalhado com o universo Ministério da Saúde nos últimos anos”.
O ministério acrescenta que o contrato “é público e tem o valor de €9.250 + IVA”, prometendo publicitar, no início da próxima semana, “todos os contratos e respetivos projetos e valores dos últimos 8 anos”: “A transparência é um valor fundamental à governação”, conclui.
Segundo informação disponibilizada no Portal Base, o primeiro registo de colaboração desta empresa com Estado aconteceu em 2009, ainda no governo de José Sócrates. Seguem-se depois vários contratos realizados nos anos seguintes, tanto no governo de Passos Coelho como de António Costa.
Já no dia de hoje, confrontado com as questões colocadas pelo líder socialista, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, respondeu que a matéria “não tem pés nem cabeça”.
“Eu não vou estar a falar sobre isso agora, mas não tem pés nem cabeça, essa acusação”, disse Luís Montenegro aos jornalistas, após votar antecipadamente em Espinho, no distrito de Aveiro.
O PS voltou a manifestar-se sobre o tema?
Um dia depois de ter pedido ao governo para esclarecer a questão e de o ministério ter admitido que contratou uma consultora privada para “organizar e estruturar” o trabalho da 'task force' responsável pelo plano, Pedro Nuno Santos voltou ao tema por considerar que ainda faltam esclarecimentos.
Pedro Nuno Santos, que falava numa ação de campanha na Festa da Cereja, em Resende, distrito de Viseu, ao lado da cabeça de lista do PS, Marta Temido, disse hoje querer saber se a consultora teve acessos a “dados muito sensíveis” de doentes e por patologias e por região.
Em reforço da exigência de esclarecimentos de Pedro Nuno Santos, Marta Temido rejeitou que a secretaria-geral do Ministério da Saúde tenha feito contratos com entidades privadas enquanto foi ministra, porque quem conhece bem o setor “não compra a terceiros”.
“O Ministério da Saúde, através da Secretaria-Geral, que é a entidade que realiza as aquisições, não realizou contratos com consultoras privadas. Agora quando se diz universo da saúde, que foi o que foi referido, terá de se questionar o vasto universo da saúde”, referiu.
Mais tarde, Marta Temido garantiu mesmo que o Ministério não realizou qualquer contratação com a consultora privada IQVIA Solutions enquanto foi ministra. “Não tenho memória de nenhuma contratação com esta consultora ao nível do Ministério da Saúde. Não quer dizer que não tenha havido com entidades públicas empresariais, hospitais, administrações regionais de saúde, mas é algo que o Ministério da Saúde poderá esclarecer”, afirmou.
O que dizem os partidos sobre este tema?
O tema não ficou apenas entre PS e AD: a polémica sobre o envolvimento da consultora privada dominou hoje a campanha eleitoral para as europeias de 9 de junho.
- IL
Para o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, a polémica sobre a consultora privada é uma “questão menor” e uma forma do secretário-geral do PS “retomar a agenda que tem perdido”.
Em Almada, Setúbal, o líder liberal desvalorizou a questão e referiu que o que o preocupa é o plano de saúde em si e não propriamente se foi paga uma determinada importância a uma consultora para organizar informação.
- CDU
O “número um” da lista da CDU, João Oliveira, também entrou na polémica, considerando que a celeuma contribui para “desviar a campanha do que é essencial e central”.
Numa arruada no centro de Setúbal, acompanhado pelo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, João Oliveira disse esperar que o eleitorado perceba que “enredar a campanha eleitoral em questões como essas contribui para desviar aquilo que é essencial e central, nomeadamente as questões dos salários, das reformas, da saúde e da habitação”.
- BE
Em Lisboa, à margem de uma ação de campanha na Quinta das Conchas, em Lisboa, a cabeça de lista do BE, Catarina Martins, desvalorizou a polémica e visou o plano de emergência.
“O pior problema é que o plano é mau. Eu acho mesmo que essa é mesmo a grande questão. Contratando ou não contratando, o governo fez um mau plano e pelos vistos a empresa privada que contratou foi copiar o que já tinha feito o governo do PS. É fraquinho”, afirmou.
- Chega
O líder do Chega acusou hoje o secretário-geral socialista de tentar desviar “as atenções para um tema absolutamente lateral”.
“O doutor Pedro Nuno Santos escolheu este momento da campanha por uma razão, porque a sua candidata Marta Temido foi implicada no caso das gémeas. E então escolheu pegar numa questão completamente lateral - porque esta consultora aliás já tinha feito outros planos para um governo socialista - para desviar as atenções”, afirmou.
Concretamente sobre o governo ter recorrido a uma consultora privada para elaborar o plano para a saúde, André Ventura considerou que “mostra a incompetência deste governo, mas isso não é notícia nestas eleições europeias” e acusou o executivo de “vai copiar tudo o que o PS fez”, inclusivamente recorrer à “mesma empresa que o PS recorreu”.
*Com Lusa
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