"É um grande golpe" lamentou hoje o chefe da diplomacia francesa Jean-Yves Le Drian em declarações à France Info.
"Trata-se de uma decisão unilateral, brutal e imprevisível e que se parece muito ao que fazia (Donald) Trump", acrescentou.
O novo tratado de Defesa entre Washington, Londres e Camberra, prevê dotar a Austrália de submarinos nucleares.
Por outro lado, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, disse hoje que vai vetar a entrada de futuros submarinos nucleares australianos em águas territoriais neozelandesas mantendo a política antinuclear do país e contrariando aspetos do novo acordo entre Washington, Londres e Camberra.
O desenvolvimento do novo programa de submarinos nucleares é um ponto central do novo tratado de Defesa entre a Austrália, Estados Unidos e Reino Unido que foi anunciado na quarta-feira pelo presidente norte-americano, em Washington.
Reagindo ao acordo, a primeira-ministra da Nova Zelândia enfatizou a política de desnuclearização adotada no país depois de o navio da organização ambientalista Greenpeace, "Rainbow Warrior", ter sido afundado em Aukland, em 1985, quando participava em protestos contra testes nucleares franceses no Pacífico.
"A cooperação entre os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a Austrália no que diz respeito aos submarinos nucleares prejudica de forma grave a paz e estabilidade regionais, intensifica a corrida ao armamento e compromete os esforços internacionais sobre a não-proliferação nuclear", disse hoje o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Zhao Lijian, em Pequim.
Os Estados Unidos, Austrália e Reino Unido anunciaram na quarta-feira um pacto de defesa destinado a enfrentar a República Popular da China na região Indo Pacífico, incluindo o desenvolvimento de submarinos nucleares da Austrália.
O pacto AUKUS (iniciais em inglês dos três países anglo saxónicos) tem como objetivo reforçar a cooperação trilateral em tecnologias avançadas de defesa, como a Inteligência Artificial, sistemas submarinos e vigilância em longa distância.
"Os nossos países, e na verdade, o mundo dependem da região Indo Pacífico livre e aberta de forma duradoura para que possa crescer nas próximas décadas", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, numa conferência de imprensa na quarta-feira em Washington.
Biden não mencionou diretamente a República Popular da China e a mesma postura foi adotada pelo chefe do governo australiano Scott Morrison e pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que se pronunciaram através de meios remotos durante a conferência de imprensa do chefe de Estado norte-americano.
Mesmo assim, os Estados Unidos defendem a "contenção" dos avanços da República popular da China no Pacífico sendo que o novo pacto pretende novos compromissos "da Europa e em particular do Reino Unido", disse um alto membro da Administração norte-americana.
Até ao momento, os Estados Unidos só partilharam tecnologia destinada ao desenvolvimento de submarinos de propulsão nuclear com o Reino Unido, em 1958, disse o mesmo responsável que não foi identificado.
A mesma fonte disse à France Presse que o acordo é "histórico" até porque os Estados Unidos e o Reino Unido "ampliaram" o tratado à Austrália com o compromisso de ajudar Camberra a adquirir submarinos nucleares para a Royal Australian Navy.
No mesmo discurso de quarta-feira, Biden sublinhou que os submarinos que vão ser adquiridos pela Austrália não vão estar equipados com armas nucleares mas sim com "armamento convencional".
Mesmo assim, os navios são "potenciados por reatores nucleares".
"Trata-se de uma tecnologia testada e segura", disse ainda o chefe de Estados norte-americano.
Os três países acordaram num prazo de 18 meses, até ao primeiro trimestre de 2023, encontrar a melhor maneira para desenvolver os submarinos australianos, juntando os conhecimentos dos Estados Unidos e do Reino Unido, refere um comunicado final dos três países.
"A Austrália não está a tentar conseguir armas nucleares nem procura estabelecer capacidade civil nuclear", disse o primeiro-ministro australiano no discurso transmitido por meios remotos durante a conferência de imprensa de Joe Biden.
O pacto da Austrália com Washington e Londres pode ter como resultado o cancelamento de um outro acordo entre Paris e Camberra para a construção de 12 submarinos, indica, por outro lado, o jornal australiano Sydeney Morning Herald.
O primeiro-ministro da Austrália e Joe Biden não confirmaram a possível suspensão do contrato entre Paris e Camberra e que envolve verbas correspondentes a 31.355 ME e cuja execução tem vindo a ser adida pelos australianos.
O primeiro-ministro britânico destacou a ambição do projeto que considerou "reflexo da profundidade da amizade" que existe entre os três países.
"Este vai ser um dos projetos mais complexos e tecnicamente mais exigentes do mundo, vai durar décadas e vai exigir tecnologia ainda mais avançada", disse Boris Johnson sobre os submarinos nucleares destinados à Austrália.
O tratado foi anunciado uma semana da cimeira com os líderes da Austrália, Índia e Japão, na Casa Branca, países com quem os Estados Unidos mantêm acordos formais desde 2007 destinados a obstaculizar o poder na República Popular da China.
Paralelamente, Biden vai receber em breve na Casa Branca os primeiros ministros da Austrália, Índia e do Japão.
O anúncio do novo acordo entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália sobre a região Indo Pacífico ocorreu no mesmo dia em que se conheceram as primeiras notícias sobre as polémicas revelações do chefe de Estado Maior norte-americano que contactou o homólogo chinês nos últimos dias da Administração Trump, sob a "saúde mental" do presidente.
O general Mark Milley disse aos jornalistas do jornal Washington Post, Bob Woodward e Robert Costa que "tentou evitar uma guerra entre os Estados Unidos e a República Popular da China no final de 2020.
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