O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura até 2022, altura em que foi substituído por José Tolentino de Mendonça, admite numa entrevista ao Corriere della Sera que o Papa Francisco poderá renunciar por motivos de saúde, mas acredita que o sumo pontífice tentará manter-se em funções até ao final do Jubileu de 2025.

"Acredita que Francisco pode decidir demitir-se?", pergunta o jornalista. "Penso que sim. Se tiver sérias dificuldades em executar o seu serviço, fará a sua escolha. Será o único a decidir, obviamente, talvez peça conselhos, mas ele próprio avaliará a palavra final, em consciência. Sem prejuízo de que o seu grande desejo é, pelo menos, completar o Jubileu, o Ano Santo dedicado à esperança, que sente ser o seu grande momento", responde o cardeal Gianfranco Ravasi.

Gianfranco Ravasi lembra que o Papa Francisco assinou uma carta de renúncia no início do seu pontificado, tal como fez Paulo VI. "Tanto quanto sabemos", explica, "está a ocorrer uma dificuldade estrutural que afeta uma função vital fundamental, como a respiração. Uma coisa é o joelho, mas se sente que todo o corpo está em dificuldade, isso é outra coisa".

Infeção polimicrobiana, pneumonia bilateral, indicações muito precisas mostram um elemento de fragilidade que não deixa margem para dúvidas numa pessoa de idade, "mesmo tendo em conta a sua vitalidade, a sua capacidade de reação", diz o cardeal.

E garante que não tem informação privilegiada, guia-se apenas pelo que dizem os boletins oficiais. "Como vivemos tempos em que a comunicação global é decisiva, criou-se uma verdadeira bolha mediática, que tentou ir além das indicações realistas que temos". E recorda que ainda na terça-feira à noite "corria o rumor de que a situação de Francisco era desesperada, que não havia mais nada a fazer e que o levariam de volta para casa para morrer".

Na entrevista ao jornal italiano, Gianfranco Ravasi denuncia "uma forte corrente anti-Bergoglio", "principalmente na Internet e em sites americanos", que "mostra claramente uma expectativa de mudança que se expressa também através de notícias falsas. Há uma forte polarização. Além disso, a tensão entre visões eclesiásticas opostas não é um fenómeno de hoje", diz.

As declarações de Gianfranco Ravasi surgem numa altura em que o Papa Francisco se encontra internado no hospital Agostino Gemelli, em Roma, há já uma semana.