O papa emérito Bento XVI considerou numa entrevista na segunda-feira ao jornal Il Corriere della Sera que aquela “é uma viagem muito importante”, mas que, “infelizmente, ocorre num momento muito difícil que a torna perigosa”.
Bento XVI referiu “razões de segurança e a (…) covid”, apontando também “a situação instável do Iraque”. “Acompanharei Francisco com as minhas orações”, adiantou.
A avaliação é partilhada por organizadores da visita no Iraque.
“Estamos muito satisfeitos com a vinda do papa Francisco, mas ela acontece num momento bastante complicado”, admite sem rodeios um dos responsáveis pela organização da visita da Presidência iraquiana, citado pela agência France-Presse.
Para se tornar o primeiro papa a visitar o Iraque e encorajar as comunidades cristãs no país, Francisco, 84 anos, enfrenta uma segunda vaga do novo coronavírus e um confinamento renovado, ‘rockets’ e manifestações, além de ter de deslocar-se a infraestruturas em ruínas.
O “momento bastante complicado” começou há algumas semanas com um novo pico de infeções pelo novo coronavírus – 4.000 casos diários contra algumas centenas anteriormente. Entre os novos doentes está o embaixador do Vaticano em Bagdade, o núncio apostólico Metja Leskovar, que testou positivo para a covid-19 a uma semana da visita de Francisco ao Iraque.
Fonte da nunciatura disse no domingo que Leskovar “tem sintomas ligeiros e está isolado”, adiantando que “continua o seu trabalho para organizar a visita”.
Mas, tendo em conta que o papa costuma ficar nas nunciaturas dos países que visita, desconhece-se onde Francisco irá pernoitar no Iraque, país muçulmano de maioria xiita.
O aumento de casos de covid-19 faz recear que as missas se tornem grandes focos de contaminação e se o papa e dezenas de pessoas que o acompanham foram vacinados o mesmo não acontece com os cerca de 40 milhões de iraquianos.
O Iraque, que regista um total 699.800 infetados, incluindo 13.428 mortos, só na segunda-feira à noite recebeu as primeiras 50.000 doses da vacina, a Sinopharm, um presente da China, e anunciou que iniciaria a imunização na terça-feira.
Não sendo o distanciamento físico, as quarentenas e o uso da máscara práticas muito seguidas pelos iraquianos, os organizadores da visita papal limitaram drasticamente os lugares para as missas.
O estádio de Erbil, com 20.000 lugares, apenas deverá receber cerca de 4.000 fiéis para a missa de domingo e Francisco será privado dos habituais banhos de multidão.
Além disso, será decretado um confinamento nacional durante todo o período da visita do papa e “as forças de segurança serão destacadas para proteger as estradas”, explicou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Nizar Kheirallah.
Mas o vírus não é a única preocupação para a polícia e os soldados que acompanharão o papa. Erbil (norte) e Bagdade, a segunda capital mais populosa do mundo árabe com cerca de 10 milhões de habitantes, foram palco recentemente de ataques de ‘rockets’ contra interesses norte-americanos.
Na capital são polidos os sinos das igrejas e os cartazes de políticos substituídos por mensagens de boas vindas a Francisco, mas a alegria geral e os preparativos não conseguem fazer esquecer um contexto explosivo.
Em três dias, o papa deverá percorrer mais de 1.445 quilómetros de helicóptero ou avião e sobrevoará por vezes zonas onde se escondem ainda elementos ativos do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico (EI).
Símbolo das atrocidades dos fundamentalistas do EI é Mossul, a terceira maior cidade do Iraque, onde o papa fará uma oração pelas vítimas no domingo.
No dia anterior, Francisco visitará a antiga Ur – a capital dos sumérios, que a tradição cristã aponta como a terra natal de Abraão – situada na província de Zi Qar, onde nas últimas semanas recomeçaram as manifestações antigovernamentais e na semana passada foram mortos seis manifestantes.
Durante a visita, guarda-costas e padres estarão sempre junto ao papa, que também sofre de ciática.
“O Vaticano acaba de nos anunciar que o papa não pode dar mais do que dez passos. Não sabemos realmente o que fazer”, reconheceu o responsável da Presidência iraquiana, considerando, no entanto, que o esforço vale a pena.
“Que responsável estrangeiro poderá agora recusar-se a vir ao Iraque se o papa o fizer?”, adiantou.
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