O documento conclui que “a mortalidade direta e indireta relacionada com a covid-19 resultaria entre 1,8 e 5,3 milhões de mortes adicionais em África até 2030″ e recorda que “atualmente cerca de 700.000 africanos morrem de sida, e ligeiramente menos de malária todos os anos”.
Quanto à mortalidade indireta, refere que esta “resulta geralmente de menores receitas governamentais e de menores despesas de saúde”, dando como exemplo que “com o Ébola na Guiné, Libéria e Serra Leoa entre 2014 a 2016, os recursos desviados dos cuidados básicos de saúde provocaram aumentos na malária, VIH/sida, tuberculose e mortalidade materna”.
“Se o mesmo acontecer com a covid-19, então as mortes por VIH, tuberculose e malária podem aumentar até 36% em África ao longo de cinco anos”, estima.
O relatório da organização africana, que tem por objetivo melhorar a segurança humana no continente, consta que as taxas de mortalidade pela pandemia no continente africano são, até à data, significativamente inferiores às de outras regiões do mundo, “provavelmente devido à população mais jovem de África”. Mas acrescenta que “a transmissão comunitária está a acelerar”.
Ainda assim, defende que, de acordo com as taxas de infeção previstas, espera que a covid-19 tenha uma mortalidade relativamente baixa. “Entre 350.000 e 1.450.000 mortes adicionais” pela pandemia em 2020, mas muito menos depois disso.
Quanto ao impacto social e económico da pandemia, este “já se faz sentir e pode desencadear uma série de crises de dívida”, concluiu o relatório do ISS, do Gordon Institute of Business Science (GIBS) e do Frederick S. Pardee Center for International Futures, uma investigação financiada pela Humanity United e pela Fundação Hanns Seidel (HSF).
Segundo o documento, estima-se que “as receitas governamentais em África irão diminuir em 2020 em 45 mil milhões de dólares [40 mil milhões de euros] face às previsões pré-covid, e o relatório calcula que as despesas públicas e privadas de saúde “irão diminuir em 3,7 mil milhões de dólares [3,3 mil milhões de euros]”, considerando que é provável que “a recuperação económica seja gradual” após o levantamento total das medidas de isolamento em África, “agravada por um colapso esperado das receitas fiscais e por quedas no emprego e no rendimento das famílias”.
Uma contração económica que será ainda “agravada pelos elevados níveis de endividamento de muitos países africanos. Os custos do serviço da dívida aumentaram para cerca de 40 mil milhões de dólares [35,6 mil milhões de euros] anuais, impulsionados pela depreciação de muitas moedas africanas em 2020″.
Assim, a covid-19 “é suscetível de desencadear uma crise da dívida e potencialmente um incumprimento por parte de alguns países”, conclui o relatório.
“Em média, a dívida deverá aumentar em cerca de 4,4 pontos percentuais do PIB em 2020″, estima.
Por isso, o documento defende que “a suspensão ou anulação da dívida seria um instrumento poderoso para complementar os esforços dos países africanos para lidar com a pandemia e ajudar as suas economias a recuperar”.
A contração das economias africanas levará “provavelmente a um aumento da contribuição da ajuda externa para o PIB”, refere a organização, considerando que África se tornará, “durante vários anos, mais dependente da ajuda, e enfrenta o enigma de ter de estimular o investimento interno ao mesmo tempo que limita a despesa pública”.
Neste contexto, “o impacto da covid-19 na pobreza extrema é particularmente grave”, refere, recordando que já este ano, mais 12 milhões de africanos têm rendimentos abaixo do limiar de pobreza extrema, de 1,90 dólares, aumentando para até 26 milhões de pessoas em 2021″.
Previa-se que cerca de 570 milhões de africanos vivessem em pobreza extrema até 2030, “mas a covid-19 poderia empurrar” esse número para 631 milhões, adianta.
Por outro lado, “a proporção da população subnutrida de África deverá aumentar, e a mortalidade infantil será, até 2030, três vezes superior ao objetivo da ONU para 2030 nos ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável]”.
Assim, o relatório defende que a pandemia representa “uma oportunidade para os países africanos fazerem do abastecimento de água e saneamento um foco do seu estímulo de recuperação económica, e melhorarem uma série de indicadores de desenvolvimento no processo”.
Por outro lado, a pandemia “também sublinha a importância de acelerar a transformação estrutural, no sentido de um crescimento que absorva a mão-de-obra dos sectores formais, e de uma diversificação económica longe da dependência das matérias-primas”.
A pandemia de covid-19 já provocou quase 482 mil mortos e infetou mais de 9,45 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Em África, há 8.856 mortos confirmados em mais de 336 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
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