Entrevistada ao telefone pela Lusa em Washington, antes de ir para Paris para a divulgação oficial do relatório, Sarah Saadoun apontou que "ver enormes palácios presidenciais e outros da família do Presidente ao lado de bairros sem água potável, e com aspeto totalmente negligenciado, e os hospitais completamente impreparados, é mais chocante do que aquilo que os críticos descrevem".
Durante a entrevista, Sarah Saadoun disse que não teve contacto com o Governo da Guiné Equatorial porque as autoridades não responderam aos pedidos de contactos da HRW e que não informou as autoridades da sua presença durante 10 dias em Malabo e Bata no ano passado, "mas também não precisava, dado ter nacionalidade norte-americana", disse.
"Nada me preparou para o que vi, foi chocante", resumiu a investigadora sobre a sua visita ao mais recente membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), descrevendo as situações reais que encontrou durante a sua visita.
"Não há justificação para gastar metade do Orçamento de 2015 para fazer uma nova capital no meio da selva, simplesmente não há justificação para isso; há um aeroporto gigante, há um estádio de futebol enorme e depois não há uma escola secundária sequer", disse, criticando o estado de degradação das escolas, visível nas fotografias que a HRW colocou no seu site.
Para Sarah Saadoun, "o país precisa urgentemente de mudar o ambiente de negócios para ser mais transparente e atrair mais Investimento Direto Estrangeiro, por um lado, e tem também de investir tremendamente na saúde e na educação para preparar os jovens para a economia pós-petrolífera".
O petróleo na Guiné Equatorial representa a quase totalidade das receitas fiscais e das exportações, mas a produção está longe do pico de há cinco anos, ficando-se agora abaixo dos 300 mil barris de petróleo por dia e a produção, se não forem descobertos novos poços, terminará em 2035.
"O momento para diversificar e investir noutras áreas é agora porque o dinheiro do petróleo vai desaparecer", defende a investigadora, sublinhando que não é só o Governo que tem culpa de o país ser simultaneamente o mais rico em PIB per capita e o que tem uma das maiores taxas de pobreza extrema do mundo.
"Os governos e os investidores estrangeiros têm a responsabilidade de tentar garantir que as parcerias que fazem no país não são infetadas pelos conflitos e pelos problemas com membros do Governo que são os donos de uma empresa e usam esse estatuto para garantir contratos", defendeu.
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