“Nos últimos 15 anos houve um progresso como nunca antes, mas esse progresso parou”, referiu Pedro Alonso, diretor do programa de combate à malária da OMS, em entrevista à Lusa.
As mortes provocadas pela malária em todo o mundo voltaram a diminuir em 2017, para um total estimado de 435 mil vítimas (menos 3,6% que em 2016), mas calcula-se que o número de casos tenha subido de 217 para 219 milhões.
Mais de 90% dos casos e das vítimas mortais estão no continente africano e a maioria são crianças, o mesmo padrão de estudos anuais anteriores.
“Já não estamos a progredir e historicamente sabemos que neste momento há um risco de regredir”, alertou Pedro Alonso.
O apelo do diretor do programa de combate à malária da OMS para que haja reforço de verbas nos orçamentos de Estado é dirigido sobretudo para África.
“Muitos dos grandes contributos na luta contra a malária vieram dos líderes políticos africanos”, mas para que tal se repita, os dirigentes “têm de ter a capacidade de fazer refletir os compromissos políticos no orçamento de Estado nacional”, referiu.
Essa aposta no orçamento interno de cada país existe, “mas talvez seja necessário um novo impulso”.
O mesmo deve acontecer nos países livres de malária – como é o caso dos Estados europeus -, uma vez que a malária “é um dos grandes problemas de saúde global”.
“Sabemos que já houve países que conseguiram livrar-se da malária, mas tiveram reintroduções e, portanto, ninguém está a salvo”, sublinhou à Lusa.
A atual estagnação no combate à doença fragiliza o objetivo de redução da doença em 40% até 2020, notou a OMS.
Além do mais, para lá chegar, os investimentos deviam alcançar, pelo menos, 6,6 mil milhões de dólares anuais – mais do que o dobro da verba disponível hoje, referiu à Lusa Kesete Admasu, diretor executivo da Parceira para Redução da Malária (RBM, sigla inglesa) que junta centenas de organizações a nível mundial.
Aquele responsável disse acreditar que é fácil convencer os líderes políticos a entrar nesta luta, porque “apostar no combate à malária é um investimento inteligente”.
“Por cada dólar investido, o retorno é muito maior” em termos de capacidade de produção de riqueza nos países afetados, referiu.
Por outro lado, também podem ser colhidos dividendos políticos com relativa rapidez.
“Quem quiser ser reeleito, deve fazer um bom controlo da doença” e só deverá precisar “de uma época de transmissão de malária” para que os resultados sejam visíveis.
No fim de contas, “tanto os países endémicos e com os doadores têm de renovar os compromissos”, sintetiza Pedro Alonso, reconhecendo que os doadores não podem apoiar sozinhos, “também precisam de ver que há uma apropriação pelos líderes” dos países afetados, que é refletida “no orçamento nacional”.
Moçambique é o terceiro país do mundo mais afetado com 5% dos casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas), segundo o relatório anual divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Só a Nigéria (25%) e a República Democrática do Congo (11%) têm mais casos estimados, o que faz de Moçambique o país lusófono mais atingido pela malária – Angola surge em 13.º lugar com 2% do total mundial de casos.
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