Miguel Guimarães esteve hoje a ser ouvido na comissão parlamentar de Saúde sobre situações de atrasos de exames em doentes oncológicos, lembrando que a dificuldade de acesso a exames acontece em muitos hospitais do SNS, que recorrem a outras instituições ou a privados “porque não têm capacidade”.
“É uma situação transversal”, indicou, avisando que os profissionais de saúde “têm cada vez mais receio de denunciar os casos” que conhecem, temendo “o papel das administrações e de quem tem responsabilidades políticas”.
“As pessoas não se sentem protegidas. Quem faz a denúncia de um caso pode ter implicações negativas na sua vida profissional”, disse o bastonário, corroborando declarações no mesmo sentido da deputada do CDS Isabel Galriça Neto.
O bastonário refere que continua a receber denúncias de situações, mas em que as pessoas pedem geralmente para não ser identificadas.
Sobre o caso apreciado hoje na comissão parlamentar de Saúde relativo ao atraso de um exame a um doente com cancro do pulmão, que acabou por morrer, o bastonário considerou que “não é minimamente aceitável”, sendo "um caso grave", mas que "não é isolado", demonstrando ainda falta de trabalho de equipa, nomeadamente entre instituições do SNS.
Segundo Ulisses Brito, representante da Ordem no Algarve, o caso terá ocorrido porque o exame era remetido para o IPO de Lisboa, que por uma questão administrativa passou a exigir um termo de responsabilidade, fruto da alteração de um protocolo que tinha com a indústria farmacêutica, que custeava esses exames.
A Ordem dos Médicos foi questionada pelo PS sobre se haveria razões para uma intervenção da associação profissional, tendo o bastonário recusado esta ideia por não estarem em causa questões éticas ou deontológicas dos médicos.
O deputado socialista Luís Graça perguntou ainda ao bastonário as razões para as vagas nos concursos médicos ficarem vazias.
“A Ordem tem responsabilidades em algumas áreas, mas não tem a responsabilidade pelo SNS. A responsabilidade é dos gestores políticos. Que nada fazem para reter no país [os profissionais]. Já perguntou à senhora ministra da Saúde porquê?”, contrapôs Miguel Guimarães.
Para o bastonário, a responsabilidade política “tem de ser completamente diferenciada” da responsabilidade dos profissionais de saúde.
“Os profissionais, como os médicos e os enfermeiros, fazem o que podem e o que não podem. Por isso é que têm um nível de ‘burnout’ elevadíssimo”, lamentou Miguel Guimarães, aconselhando os deputados a preocuparem-se mais com os profissionais de saúde e com o investimento no Serviço Nacional de Saúde.
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