Morreu Odete Santos, numa altura em que a política é polarizada vozes da esquerda e da direita uniram-se para elogiar "uma mulher de combate" a quem nunca faltou “coerência, coragem e irreverência”.
Nascida na Guarda, a advogada juntou-se ao PCP em pleno ano de revolução de 25 de abril e a partir daí a sua união ao partido haveria de marcar a política portuguesa. Tendo sido deputada à Assembleia da República entre 1980 e 2007, tendo exercido também vários cargos a nível partidário e autárquico, em Setúbal.
Na nota divulgada, o Secretariado do Comité Central assinala o percurso partidário da antiga deputada, que foi a principal voz do PCP na defesa da despenalização do aborto, em 1984, quando foi aprovada a primeira lei, em 1998, no primeiro referendo e em 2007, quando ganhou o 'sim'.
"Odete Santos destacou-se pelo seu compromisso com os trabalhadores e o povo, com uma particular ligação com a juventude, afirmando a sua notável capacidade, profundidade de análise, solidariedade, dedicação, frontalidade, coragem e força de intervenção", enaltece o PCP, recordando também a sua intervenção pela igualdade e a emancipação da mulher."
Foi considerada a deputada mais mediática do PCP e, na altura da sua saída do parlamento, o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa elogiou-a como "uma mulher apaixonada e apaixonante" que "põe o coração nas palavras".
"Foi uma mulher de combate que sempre procurou identificar-se e lutar por grandes causas sociais. Uma mulher destacada no direito laboral, particularmente os direitos laborais das mulheres, que na altura estavam sempre por baixo. Tinha uma particularidade: com o que a vida lhe trouxe, levarando a várias perdas familiares, foi uma mulher que reagiu. Foi capaz de guardar a sua dor e falar à juventude com apelo. Foi das coisas mais marcantes para mim. Estava ali uma mulher que sabia do que falava e sempre com respeito pelo adversário", disse o antigo líder do PCP.
Este respeito pelo adversário foi reconhecido por vários colegas de parlamento, inclusive Paulo Rangel que o partilhou numa publicação elogiosa no X, antigo Twitter.
Também Luís Montenegro, presidente do PSD, manifestou o seu pesar pela morte da antiga deputada do PCP Odete Santos, lembrando que tiveram diferenças de opinião, “mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos”.
O chefe de Estado lembra Odete Santos, que morreu aos 82 anos, como “uma das deputadas mais carismáticas da Assembleia da República, reconhecida por todas as bancadas pela coerência e coragem com que assumia posições, bem como pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava”. Refere ainda que “exerceu o mandato durante 27 anos, entre a II e a X Legislaturas, empenhando-se, especialmente, na defesa das minorias, na proteção dos direitos humanos, dos trabalhadores e das mulheres”.
Também António Costa usou a rede social X para lamentar a perda: "Neste momento de pesar recordo a competência, a acutilância e o humor de Odete Santos. Juntos discutimos e construímos, por exemplo, os Julgados de Paz. Uma saudosa e notável parlamentar que fica na memória", escreveu.
Odete Santos gozou de uma popularidade que extravasou o âmbito político, com presenças regulares em programas de televisão, desde debates políticos a programas de entretenimento. E, hoje, o SAPO24 recupera uma caricata história de um desses programas onde a deputada dançou e não gostou de uma piada de Ricardo Araújo Pereira.
Apaixonada pelo teatro amador, a antiga deputada estreou-se nos palcos em 1966. Voltaria a participar numa peça em 1991, e, em 1999, protagonizou "Quem tem medo de Virgínia Woolf" numa encenação do Teatro Animação de Setúbal. Em 2004 aceitou um convite para participar desta vez numa revista, "Arre Potter Qu'É Demais", no teatro Maria Vitória.
*Com Lusa
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