À imagem da véspera, quando o velório tinha começado cerca das 18h, o espaço não demorou a tornar-se exíguo perante inúmeras manifestações de afeto nas horas prévias ao funeral, que se iniciou depois das 11h e atraiu familiares, amigos, adeptos, atletas e referências históricas dos ‘azuis e brancos’, bem como figuras do futebol nacional e internacional, do desporto, da política e de outros quadrantes da sociedade portuguesa.
“Morre uma pessoa que teve capacidade e visão, marcou os últimos 42 anos da história do FC Porto e foi um grande impulsionador da independência das provas profissionais”, destacou aos jornalistas Pedro Proença, recém-eleito presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e líder cessante da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP).
Dos cidadãos anónimos às personalidades públicas, encabeçadas pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, milhares juntaram-se em redor da Igreja de Santo António das Antas para dizerem adeus a Pinto da Costa, que morreu no sábado, aos 87 anos, e tornou-se o dirigente mais titulado e antigo do futebol mundial à frente dos ‘dragões’, de 1982 a 2024.
“A minha relação com o FC Porto deve-se a Pinto da Costa. Foi uma figura do FC Porto e o melhor líder de todos os tempos. Um génio e visionário, viu o que os outros não viam", assinalou o ex-médio internacional português Deco, que foi campeão europeu pelos ‘dragões’ em 2003/04 e atualmente é diretor desportivo dos espanhóis do FC Barcelona.
Responsável pelo fim do ‘reinado’ de Pinto da Coisa, face ao triunfo nas eleições de abril de 2024, o líder do FC Porto, André Villas-Boas, acompanhou os rivais Benfica e Sporting entre os principais ausentes, por respeito ao pedido feito em vida pelo seu antecessor, que não queria nenhum elemento da atual direção ‘azul e branca’ nas cerimónias fúnebres.
“Quando morreu Jesús Gil y Gil, presidente do Atlético de Madrid, estavam na igreja os presidentes do Real Madrid e do FC Barcelona. Houve mais guerras entres eles, mas estavam lá. Não entendo [a posição dos rivais de Lisboa], mas respeito”, reagiu o antigo avançado internacional luso Paulo Futre, campeão europeu pelo FC Porto em 1986/87.
Numa altura em que o nevoeiro já tinha dado lugar ao sol, os plantéis das várias equipas do FC Porto caminhavam em bloco para o interior da igreja, atravessando um corredor feito por uma multidão plena de aplausos, cânticos, lágrimas e abraços aos futebolistas da equipa principal, enquanto as claques afetas ao clube lançavam potes de fumo, erguiam tarjas e esvoaçavam bandeiras perto de uma passadeira azul colocada à frente da igreja.
“Pinto da Costa transformou o FC Porto num dos maiores clubes do mundo e catapultou uma região e uma cidade. Foi um exemplo de dirigismo e capacidade de liderança e hoje a região norte e todo o país lhe presta homenagem”, disse Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, que, ao contrário da larga maioria dos presentes, assistiu à missa celebrada pelo bispo do Porto, Manuel Linda, e pelo cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal e amigo do ex-presidente portista.
Nessa restrita plateia também estiveram o ex-primeiro ministro Pedro Santana Lopes, que presidiu o Sporting entre 1995 e 1996 e surgiu com uma gravata de “azul triste”, e o líder do Sporting de Braga, António Salvador, admirador de Pinto da Costa “desde pequeno”.
“Durante estes 22 anos foi sempre muito próximo de mim, um grande defensor do norte e do clube que amava. Conseguiu destaque a nível nacional e mundial por ser o presidente mais titulado do mundo”, evocou, numa de múltiplas reações recolhidas pelos jornalistas.
A multidão prosseguiu firme nas imediações da Igreja de Santo António das Antas até ao fim da celebração, perspetivando-se momentos de crescente comoção assim que o carro funerário inicie a marcha pela Alameda das Antas fora em direção ao Estádio do Dragão.
Transformado num memorial em honra de Pinto da Costa desde a noite de sábado, com milhares de mensagens escritas, coroas de flores, velas, cachecóis, bandeiras e camisolas, o estádio abrirá as suas portas para uma derradeira homenagem do universo ‘azul e branco’ no relvado, já com a presença da direção liderada por André Villas-Boas.
Terminada a passagem pelo Dragão, as exéquias rumam até ao Cemitério do Prado do Repouso, na freguesia portuense do Bonfim, onde o corpo de Pinto da Costa, que tinha sido diagnosticado com um cancro na próstata em setembro de 2021 e agravou o seu estado de saúde nas últimas semanas, será cremado em cerimónia reservada à família.
Comentários