O que sabemos: é raro as crianças ficarem gravemente doentes com Covid-19
Até à data, os menores de 18 anos representam apenas perto de 2% das hospitalizações e muito menos de 0,1% dos óbitos relacionados com a Covid-19 nos Estados Unidos da América, segundo os Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) do país. Isto, apesar de representarem 22% da população.
Foram atribuídos 45 óbitos infantis ao coronavírus desde fevereiro nos EUA, contra 105 causados pela gripe comum, das 13.000 mortes registadas por todas as causas nesta faixa etária.
Um estudo realizado na China no começo da pandemia abrangendo 2.143 casos mostra que 94% das crianças não apresentavam sintomas ou tinham sintomas leves ou moderados (infeção dos pulmões, febre, tosse sem dificuldade de respirar).
As crianças que ficam gravemente doentes geralmente parecem ter antecedentes médicos. Em Chicago, as 10 crianças hospitalizadas em março e abril tinham patologias preexistentes ou alguma outra infeção.
Isso não significa que são imunes ao vírus, como revelou o surgimento, embora incomum, de uma doença inflamatória grave. Foram identificados mil casos desta nova "síndrome inflamatória multissistémica" em crianças em todo o mundo, com 2% de taxa de mortalidade. Seis crianças morreram nos Estados Unidos, segundo os CDC.
O que se debate: as crianças são menos infectadas?
A dúvida neste momento é se as crianças ficam menos doentes porque os seus organismos combatem melhor a infeção ou porque são menos contaminadas pelo coronavírus?
O número oficial de casos não é representativo do número real de crianças infectadas, porque os testes priorizaram os pacientes com sintomas, entre os quais as crianças estão subrepresentadas.
No entanto, vários estudos de fontes confiáveis inclinam-se mais a favor da segunda hipótese: o vírus parece infectar menos as crianças, especialmente as menores de 10 anos.
Campanhas de testes diagnósticos na Islândia, na Espanha, em Genebra, na Suíça, ou no vilarejo de Vo, na Itália, colecionaram amostras representativas da população para ver a taxa de pessoas infectadas ou que desenvolveram anticorpos contra o coronavírus: as crianças estavam proporcionalmente menos infectadas que os adultos.
A comunidade científica, porém, ainda não chegou a um consenso.
Nos Estados Unidos iniciou-se um estudo em maio com 2.000 famílias para descobrir o impacto real da Covid-19 nas crianças. "Devemos ter respostas, com uma boa análise, a partir do fim de dezembro deste ano", declarou recentemente Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos.
O que falta saber: as crianças são menos contagiosas?
Esta é a mais crucial das perguntas, dado que o início do ano letivo em boa parte do mundo se aproxima.
Se as crianças, inclusive com poucos ou nenhuns sintomas, forem tão contagiosas quanto os adultos, então podem ser grandes vetores e contaminar desde professores a funcionários, passando pelas suas famílias.
O problema é que avaliar a contagiosidade de uma pessoa não é tarefa fácil.
Um primeiro método é observar a carga viral ou a concentração do vírus. Um estudo com 145 crianças em Chicago mostrou que os menores de 5 anos tinham de 10 a 100 vezes mais partículas de vírus no nariz, em comparação com crianças mais velhas e adultos.
Teoricamente, significaria que expelem mais vírus no ar a cada expiração e, por consequência, infetam mais pessoas ao seu redor. Mas, se isso é um facto para outros tipos de vírus, tal ainda não foi provado para o SARS-CoV-2.
O outro método é epidemiológico.
Por um lado, grandes surtos de covid-19 surgiram num acampamento de verão no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, ou numa escola de Jerusalém, em Israel, o que mostra que o vírus pode circular ativamente entre os jovens. Por outro, um grande estudo na Coreia do Sul provou que as crianças, especialmente os mais jovens, raramente infetam os seus familiares.
Um dos primeiros surtos em França, que começou num chalé na Alta Saboia, contaminou uma criança de 9 anos que, apesar de ter tido contacto com outras 172 pessoas de seguida, não infectou ninguém.
Os especialistas, todavia, também pedem que se distingam as crianças pequenas dos adolescentes, em quem o vírus parece comportar-se de maneira mais parecida com os adultos.
Finalmente, os imunologistas estão a investigar outra hipótese: e se os quatro coronavírus humanos comuns que causam constipações proporcionam imunidade contra a Covid-19? As crianças costumam ter constipações, o que explicaria estarem relativamente a salvo da pandemia. A teoria, porém, ainda precisa de ser comprovada cientificamente.
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