Pedro Nuno Santos foi esta sexta-feira questionado sobre as críticas que lhe foram feitas, inclusivamente no PS, por ter admitido em entrevista ao Expresso que não se fez tudo bem nos últimos anos quanto à imigração e pelo anúncio que vai apresentar uma solução legislativa que permita regularizar imigrantes que estão a trabalhar mas recusando recuperar a manifestação de interesses.
Na referida entrevista, o líder socialista frisou que quem procura Portugal para viver "tem de perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada".
Respondendo aos jornalistas que o questionaram, Pedro Nuno Santos recusou que haja qualquer contradição nas suas posições sobre imigração e reafirmou que não foi ao encontro das do Governo.
Em declarações em Tondela, onde participou na apresentação do candidato socialista à câmara, Pedro Nuno Santos disse que "as críticas fazem parte da vida política" e têm de ser encaradas "com normalidade".
"Um partido humanista como o meu tem que ter preocupação pela forma como o país recebe quem vem trabalhar para Portugal. É fundamental que nós tenhamos a capacidade de receber, de acolher e ter um Estado social capaz de responder a essa procura adicional", considerou o secretário-geral do PS.
No seu entender, se o país não for capaz de garantir essas condições, está "a prestar um mau serviço do ponto de vista do humanismo".
"Nós não estamos a corresponder à necessidade de cuidar, de integrar e, portanto, é fundamental que nós tenhamos políticas de integração, que o país tenha condições para receber e isso é determinante para uma boa integração e o respeito dos trabalhadores estrangeiros", sublinhou.
Sobre a manifestação de interesse, mecanismo que permitia a vinda de imigrantes para Portugal durante o governo socialista liderado por António Costa, o secretário-geral do PS referiu que, quem o conhece e fala consigo sobre imigração, há muito tempo sabe que é um crítico desse instrumento "e, portanto, desse ponto de vista, não há nenhuma mudança".
"Eu discordo dessas críticas e são visões diferentes. É por isso que nós vamos apresentar uma alternativa à extinção da manifestação de interesse, não só porque não queremos recuperar esse instrumento, mas também porque a solução do Governo, que é um vazio legal, também é uma má solução, porque empurra para a ilegalidade muitos trabalhadores estrangeiros", frisou.
"Estamos a falar de pessoas que tiveram responsabilidades governativas, que fizeram o melhor que estava ao seu alcance para acolher e dar resposta à procura por parte de empresas e de trabalhadores estrangeiros trabalharem em Portugal. Fizeram o melhor que era possível e acreditam no instrumento manifestação de interesse, um instrumento no qual eu não acredito", afirmou Pedro Nuno Santos.
"A única forma de recuperarmos a confiança dos portugueses é perceberem que somos capazes também de reconhecer aquilo que não correu tão bem"
Na sua opinião, "não é uma boa solução a do Governo", nem se deve regressar ao mecanismo anterior, pelo que se deve "adotar uma alternativa" que será apresentada na próxima semana.
Pedro Nuno Santos referiu que Portugal recebeu "um número muito elevado de imigrantes e o Estado social não estava preparado", e isso deve ser reconhecido.
"A única forma de nós recuperarmos a confiança dos portugueses é os portugueses perceberem que nós somos capazes não só de reconhecer o que fizemos bem, de defender o que fizemos bem, mas também de reconhecer aquilo que não correu tão bem", considerou.
Para o líder socialista, "não pode ser apenas o mercado a regular os fluxos migratórios, tem que ser a política a regular os fluxos migratórios e o país tem que se preparar para poder receber bem".
As críticas que se ouviram no PS ... ao PS de Pedro Nuno Santos
A antiga ministra socialista Ana Catarina Mendes, que no último Governo do PS tinha no seu ministério a pasta das migrações, deixou críticas à entrevista do líder socialista ao Expresso, na qual admitiu que não se fez tudo bem nos últimos anos quanto à imigração e anunciou que vai apresentar uma solução legislativa que permita regularizar imigrantes que estão a trabalhar mas recusando recuperar a manifestação de interesse.
Também o antigo ministro da Administração Interna José Luís Carneiro considerou hoje um erro dizer que a manifestação de interesse provoca um efeito de chamada de imigrantes, como afirmou o líder do PS, alegando que este é o resultado do crescimento da economia.
Isabel Moreira junta-se às críticas. "Não sei o que significa respeitar 'um modo de vida' ou 'uma cultura'"
Também a deputada Isabel Moreira realçou na sexta-feira que "a ideia de um único modo de vida ou de uma única cultura" é estranha ao PS, em resposta às posições do líder socialista Pedro Nuno Santos sobre imigração.
"Não sei o que significa respeitar 'um modo de vida' ou 'uma cultura'. Sei que a Constituição estipula que portugueses e estrangeiros estão sujeitos aos mesmos deveres e são titulares dos mesmos direitos. O meu campo de afirmação de valores e princípios é o da lei fundamental e esta não quer saber da nacionalidade de ninguém", destacou a deputada socialista, numa nota na sua página na rede social Facebook sobre as declarações de Pedro Nuno Santos.
Para Isabel Moreira "a ideia de um único modo de vida ou de uma única cultura não tem base constitucional" e "é estranha" ao campo político de esquerda.
A deputada socialista realçou também que tem recusado que existam "dados ou estudos que suportem a ideia de 'efeito chamada' da manifestação de interesses".
"Essa retórica nasceu no PSD de Montenegro. Ela foi tática e é nova. O número de imigrantes que recorreu a esse mecanismo é aliás demonstrativo disso. Tenho afirmado que onde há oferta de trabalho há imigração. E onde há leis muito rígidas e trabalho também há imigração. Simplesmente ela é ilegal", vincou Isabel Moreira.
"A manifestação de interesses permitia regularizar quem trabalhava e fazia aqui a sua vida e tinha requisitos. Era um mecanismo regulador. O PS sempre defendeu uma imigração regulada. E humana", acrescentou.
Isabel Moreira destacou também que o PS "não fez tudo bem em matéria de estado social", quer para imigrantes, quer para nacionais, sublinhando que "a boa criação da AIMA, para além da pandemia, não teve os meios necessários".
"Eu sei quem não falhou: os imigrantes. Sem eles o país parava. A segurança social falia. O Governo, aliás, sabe isso. E se fecha a lei com uma mão vai abrindo exceções com a outra, conforme constata que o setor y ou X desespera por trabalhadores", frisou.
Para a socialista, o seu partido será capaz de apresentar um diploma "justo e equilibrado" sobre esta matéria, e defendeu: "Temos de fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos mantermos firmes ao lado da verdade, dos factos".
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