Os Estados Unidos da América, cuja “economia cresce há 10 anos” e onde serão “criados 150 mil empregos por dia”, as eleições presidenciais norte-americanas, o acordo comercial bilateral “heterodoxo” com a República Popular da China, país que chega em “2020 ao grande objetivo de Deng Xiaoping de uma sociedade relativamente próspera”, que conseguiu “tirar 140 milhões de cidadãos da pobreza", mas que enfrentará um “desafio” chamado Taiwan. O Brexit é uma “matéria que ficou resolvida” — e que “os ingleses resolveram como entenderam”—, mas ficou por definir qual será o relacionamento com uma Europa que enfrenta um problema demográfico, está a “perder competitividade” e tem “dificuldade em vencer nesse novo mundo”. Estes foram os principais temas abordados por Paulo Portas, num pequeno-almoço na Câmara de Comércio (CCIP), em Lisboa, associação de que é vice-presidente.
Debaixo do tema “Geoestratégia do Mundo em 2020”, numa abordagem geopolítica e geoeconómica, esta última “tão relevante como a política”, Portas avisou que o mundo onde vivemos é “ocidental, atlântico e europeu”, mas aquele em que os empresários tomam decisões é outro: “mais oriental, Pacífico e mais asiático”, referiu.
“Há uma nova ordem económica e não há uma nova ordem política”, sublinhou o antigo líder do CDS e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Pedro Passos Coelho.
Num oráculo feito ao longo de 1h10m, em que chamou a atenção, no fim da palestra, para os riscos “ambientais e climáticos”, por um lado, e “cívicos” e de “cibersegurança”, por outro, de fora ficaram dois temas que marcam a agenda política e económica portuguesa: Angola e o congresso do CDS-PP, temas que se esquivou de falar aos jornalistas no final da sua intervenção.
“O mundo já não é o que era, tal como a própria América já não é o que era”
Ultrapassado o acordo entre os Estados Unidos e a China e o fim das dúvidas quanto ao Brexit, temas que até há pouco tempo “corroíam a confiança” quanto ao crescimento económico global, Paulo Portas antecipou que ao “pessimismo” de 2019, no seguimento do “relativo otimismo” dos dois anos anteriores, poderá prevalecer, em 2020, “uma visão mais realista”.
Rodando o globo, o ex-governante fez notar que a Ásia concentra “45% do crescimento real económico mundial” e a China tem, hoje, uma fatia de 12% da exportação mundial de bens. Por isso, considera ser “pouco realista” imaginar “que o mundo ficará igual”.
Os EUA “perceberam que são a potência incumbente” e “quem ameaça a sua liderança mundial é a China” e já não a “União Soviética”, frisou. Para o comentador político, a “América está a mudar. O mundo já não é o que era e a América já não é o que era”, sustentou.
No meio, surge a Europa e a União Europeia. Assumindo que “há muito mais mundo para além da Europa”, um continente que tem um “atraso no digital” e “dificuldades específicas”, alerta que os europeus sentem que o “chão está a fugir”.
O ex-vice-primeiro-ministro destacou o problema demográfico, para além da falta de produtividade e o défice de competitividade fiscal. “Todos os outros habitantes do planeta são mais novos do que os europeus”, disse. Por isso, defende que se deve atrair populações oriundas de outras paragens. “Quem vos disser que temos condições para fazer uma política de imigração zero está a faltar à verdade”, atirou, sublinhando a insuficiência das políticas europeias de promoção da natalidade que terá consequências para a Europa.
Uma oportunidade é, no entanto, vislumbrada. “A Europa não pode desistir de África”, chamou a atenção. O fim das negociações do acordo de livre comércio (Acordo de Livre Comércio Continental Africano -AfCFTA) é “um desafio para as economias europeias e africanas, uma oportunidade de crescimento”, asseverou. “Olhem para a Etiópia, Guiné-Conacri, Uganda, Botswana ... estão a crescer sustentadamente há anos”, sublinhou, depois de uma breve referência a Angola, que tem em curso “um processo de privatizações” e que poderá captar “investimento estrangeiro”.
É a economia! 6% e 2%, os números que podem fazer toda a diferença em 2020
Numa análise essencialmente económica, Portas socorreu-se de dois números que podem fazer a diferença para 2020. Saber se a China crescerá abaixo ou acima dos 6% e se os Estados Unidos da América ultrapassam ou não os 2%, um dado que ganha particular importância em ano de eleições presidenciais norte-americanas.
Embora a economia seja decisiva em na (re)eleição do homem que ocupará a Casa Branca — de quando há crescimento económico em ano de eleições e no anterior, por norma ganha o presidente que está em exercício — Portas não antecipa, por agora, um desfecho.
Donald Trump pode apresentar como trunfos os acordos com a China — que “escapa às regras da Organização Mundial de Comércio” e no qual os “dois governos combinam quanto é que um dos governos vai comprar ao outro”—, com o Canadá e México, este último país transformado em “guarda nacional” da América a quem cabe travar a imigração ilegal. Mas o lado democrata tem igualmente cartas para jogar: a “mobilização” do seu eleitorado, que se perspetiva à volta de Joe Biden. “Quanto mais centrista for o candidato democrata maior possibilidade de eleição terá”, defendeu.
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