A poucos meses de completar 70 anos, Rafael Caro Quintero é um dos narcotraficantes históricos do México. Embora tenha pago com a prisão parte dos seus crimes, nunca deixou de ser o nome associado ao assassinato do agente americano 'Kiki' Camarena, em 1985, cuja história é retratada na temporada 1 da série Narcos México exibida na Netflix, e os Estados Unidos nunca deixaram de o perseguir tendo em vista julgá-lo por esse crime.
Esse dia chegou esta sexta-feira, com a captura de Quintero por militares mexicanos no estado de Sinaloa.
Recuando na história. Caro Quintero foi detido em abril de 1985 na Costa Rica e condenado a 40 anos de prisão pelo duplo crime, mas em agosto de 2013 foi libertado por um tecnicismo legal.
Após a libertação, o governo americano exigiu uma nova captura com fins de extradição sob as acusações de sequestro e assassinato de agente federal, e posse e distribuição de cocaína e marijuana, entre outros crimes.
Em fuga desde então, a a agência americana de combate às drogas, a DEA, oferecia até 20 milhões de dólares por informações que levassem à sua captura.
Trata-se do preço mais alto posto sobre a cabeça de um criminoso mexicano, superando chefes ativos do narcotráfico como Nemesio Oseguera, "El Mencho", líder do Cartel Jalisco Nova Geração, por quem são oferecidos 10 milhões.
"Se um criminoso mata um agente nosso, então vamos perseguir um indivíduo assim como Caro Quintero pelo mundo todo até que seja capturado"
A captura de Caro Quintero "foi o resultado de sangue, suor e lágrimas", afirmou a diretora da DEA, Anne Milgram, destacando que era um alvo de altíssimo valor.
"Era uma questão pessoal para nós. Se um criminoso mata um agente nosso, então vamos perseguir um indivíduo assim como Caro Quintero pelo mundo todo até que seja capturado", comentou neste sábado à AFP Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais da DEA.
Mas Caro Quintero nega ter participado do assassinato de Camarena. "Não o sequestrei, não o torturei e não o matei", disse à revista Proceso na clandestinidade, acrescentando que só queria viver em paz.
O "Narco dos Narcos" chegou a ser o maior produtor e exportador de marijuana do México
Caro Quintero era conhecido pela ostentação, com um fraco por jóias e roupas de marca. Iniciou-se aos 14 anos no cultivo de marijuana na sua cidade natal, Badiraguato, berço de outro grande traficante mexicano, Joaquín "El Chapo" Guzmán, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos. A prisão nos EUA poderia também ser o destino final do chamado "Narco dos Narcos", cuja extradição foi pedida pelo homicídio de Enrique 'Kiki' Camarena.
No fim dos anos setenta, Quintero aliou-se a Miguel Ángel Félix Gallardo ("O chefe dos chefes") e a Ernesto Fonseca Carrillo no que ficou conhecido como o Cartel de Guadalajara, uma das primeiras organizações de narcotráfico do México.
O "Narco dos Narcos" chegou a ser, assim, o maior produtor e exportador de marijuana do México, e a sua fortuna foi calculada em cerca de 500 milhões de dólares.
Posteriormente, o Cartel de Guadalajara ampliou seus negócios para a cocaína, graças aos vínculos entre Miguel Ángel Félix Gallardo e o chefe do tráfico colombiano do Cartel de Medellín, Pablo Escobar.
Embora se apresentasse como um agricultor honesto, Caro Quintero, já estava na mira dos agentes americanos que seguiam o rastro de seus carregamentos e vínculos com as autoridades mexicanas.
Entre 1982 e 1984, Kiki Camarena, agente americano de origem mexicana, infiltrou-se no Cartel, o que resultou na apreensão e destruição de um cultivo de marijuana de aproximadamente 1011 hectares numa fazenda conhecida como Rancho Búfalo, no estado de Chihuahua.
Segundo as autoridades americanas, o desejo de vingança contra a DEA, levou Caro Quintero a ordenar a tortura e a morte de Camarena, cujo corpo foi encontrado numa vala em março de 1985, junto com o do piloto mexicano Alfredo Zavala.
O homicídio de Camarena abalou as relações entre os Estados Unidos e o México, e radicalizou o combate às drogas, detonando a queda do chefe do tráfico e a desintegração do Cartel de Guadalajara.
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