O ex-vice-governador do Banco de Portugal, Pedro Duarte Neves, está esta tarde a ser ouvido na comissão de inquérito ao Novo Banco, tendo sido questionado pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre aquilo que a bloquista considerou ser um “mistério” na época da resolução do BES, em 2014.
Em causa estão dois relatórios de auditoras – um primeiro da PwC e outro da EY – que analisaram as grandes exposições de crédito do BES e Novo Banco, realizados em 2014, com seis meses de diferença, não conseguindo Mariana Mortágua “compreender como é que exposições seis meses depois de serem avaliadas pela Price [PwC] aumentam de valor face à identificação do balanço”.
“Não lhe posso dar qualquer justificação para essa pergunta porque não sei. As exposições que existiam foram acompanhadas pelo Banco de Portugal até ao momento da resolução [do BES]. Porque é que há esse salto eu não consigo responder. Não sei”, respondeu Duarte Neves.
A deputada do BE deu exemplo de empresas como a Martifer, que no relatório da PwC tinha uma exposição de cerca de 281 milhões e, seis meses depois, a EY identificava 557 milhões, ou de José Guilherme, que passou de 137 para 262 milhões de euros, sendo ainda apontados os casos de Berardo (de 282 para 308 milhões de euros) ou da Promovalor (de 304 para 487 milhões de euros).
O antigo vice-governador explicou que não esteve envolvido no acompanhamento dos balanços.
Quando confrontado com a pergunta se alguém no Banco de Portugal tinha comparado estas duas exposições, Duarte Neves respondeu: “seguramente alguém terá feito isso, não tenho aqui uma explicação para isso”.
Mariana Mortágua quis ainda saber a quem se podia pedir uma explicação e o antigo vice-governador remeteu para “os colegas da resolução”.
Questionado sobre se o Banco de Portugal tinha feito ajustamentos à carteira de crédito no momento de resolução, o antigo vice-governador afirmou que “houve uma avaliação dos ativos naquela altura”.
“A avaliação que houve foi uma avaliação prudente com base na informação que existia na altura”, assegurou.
Na audição da parte da manhã na mesma comissão de inquérito, o atual e antigo diretor de Supervisão Prudencial, Luís Costa Ferreira, referiu que o Banco de Portugal entendia, aquando da resolução do BES em 2014, que deveria ter sido prevista uma almofada adicional de capital de 500 milhões de euros para o Novo Banco.
Na sequência desta declaração, a deputada do BE perguntou a Duarte Neves se o valor que o Banco de Portugal “levou ao Governo para a recapitalização necessária do Novo Banco era 5,5 mil milhões de euros”.
“Essa reunião teve lugar na manhã do dia 03 de agosto. O valor que foi apresentado era 5,5 milhões de euros”, anuiu.
De acordo com o antigo vice-governador, “essa reunião não foi conclusiva e o número não ficou fechado”.
“Há regras de usar nos mínimos os fundos públicos que sejam precisos. Foi nessa base que se convergiu para 4,9 e não 5,5 mil milhões de euros. Os 5,5 mil milhões de euros davam uma folga de capital um bocadinho maior do que aquela que acabou por acontecer, mas não eram estritamente necessários à luz dos enquadramentos e regulamentos vigentes”, explicou.
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