
Diante de uma multidão de seguidores reunidos em Michigan (norte), o presidente gabou-se do que chamou de os "100 dias mais bem-sucedidos" da história americana.
O republicano de 78 anos disse que estava com saudades de fazer campanha num longo discurso que lembrou um dos seus comícios como candidato presidencial.
Revisitou uma a uma todas as suas obsessões. Chamou Joe Biden de "dorminhoco" e fez inclusive uma sondagem com o público para ver qual apelido depreciativo preferiam para seu antecessor democrata.
Acusou os meios de comunicação de serem "mentirosos", os juízes de "comunistas", os países aliados de terem "roubado" comercialmente os Estados Unidos e os opositores democratas de serem "malucos de extrema esquerda". O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central), Jerome Powell também não se salvou às criticas. "Não está a fazer um bom trabalho", comentou.
Fronteira 'segura'
Trump defendeu as suas operações para deportar os imigrantes em situação irregular.
"Conseguimos, de longe, a fronteira mais segura da história dos Estados Unidos", disse.
"Vejam só, entraram três pessoas" e isso porque estavam "doentes", vangloriou-se Trump, cujo governo não hesitou em deportar várias crianças com cancro.
A sua administração reporta um total de 139 mil pessoas deportadas desde 20 de janeiro dos Estados Unidos, onde, em 2022, viviam 11 milhões de imigrantes em situação irregular ou com estatuto temporário.
Trump gabou-se também por ter designado como organizações "terroristas" seis cartéis mexicanos, o gangue MS-13 e o grupo criminoso venezuelano Trem de Aragua.
O republicano invocou uma lei do século XVIII, a Lei de Inimigos Estrangeiros, usada apenas em tempos de guerra até então, para deportar supostos criminosos para El Salvador.
O FBI (polícia federal) deduziu que esses "gangues implacáveis" foram enviadas pela "Venezuela para fomentar a violência e a instabilidade nos Estados Unidos", afirmou o magnata republicano.
A multidão gritou em coro "Estados Unidos! Estados Unidos!" quando Trump exibiu um vídeo de imigrantes expulsos para El Salvador para serem mandados à prisão.
Nas imagens, agentes escoltam os homens e obrigaram-nos a correr com corpo curvado para dentro dos veículos que os transportam para a prisão, onde eles estes usam as cabeças raspadas.
'Era de Ouro'
Trump também defendeu a ofensiva protecionista, que descreveu como a promessa de uma nova "Era de Ouro" económica.
"As tarifas vão ser um pouco duras agora, mas, no futuro, tudo será americano", declarou à AFP Sara Azar, de 55 anos, antes do começo do evento.
Uma das assessoras mais próximas do presidente, Margo Martin, chegou a dizer no palco: "Trump 2028, significa algo para vocês?", em referência a um hipotético terceiro mandato, proibido pela Constituição.
Desde o momento em que levantou a mão para prestar juramento e tomar posse do cargo em 20 de janeiro, o republicano se estabeleceu como o único centro de gravidade na vida pública americana.
"Lidero o país e o mundo", disse em numa entrevista à revista The Atlantic. E reconheceu: "Estou a divertir-me muito."
Mas esse não é o caso de todos os americanos, abalados pela guerra comercial que iniciou, particularmente com a China, sobre a qual impôs taxas de 145%.
Donald Trump não goza do relativo estado de graça que geralmente acompanha os primeiros 100 dias de um presidente. Alguns odeiam-no, e outros amam-no.
As sondagens de opinião são unânimes em apontar uma queda do seu índice de aprovação, alimentada pela inquietação provocada pelas tarifas e os ataques à ordem institucional.
"Trump não fez nada para melhorar a vida das famílias de classe média, e estão a começar a arrepender-se da sua escolha", afirmou em comunicado o Partido Democrata, que também desempenha mal nas sondagens.
O presidente inverteu totalmente o papel internacional da maior potência mundial, que, segundo ele, deve restringir-se sobre uma esfera de influência regional, estendendo-se se for possível até a Gronelândia, ou inclusive o Canadá.
O republicano já assinou mais de 140 decretos, muitos deles bloqueados nos tribunais, para atacar seus adversários políticos, lançar uma política de deportação em massa de imigrantes e desmantelar a burocracia federal com a ajuda de seu aliado bilionário Elon Musk.
De acordo com uma sondagem publicada no domingo pelo jornal Washington Post e a emissora ABC News, 64% dos entrevistados acreditam que o presidente está a ir "muito longe" na sua tentativa de ampliar os poderes presidenciais.
"Odiaria que pensassem assim. Estou a fazer uma coisa: estou a tornar os Estados Unidos grandes outra vez", respondeu Trump na noite desta terça-feira numa entrevista à emissora ABC, quando foi questionado sobre os que estão preocupados que esteja acumular muito poder.
Comentários