“Não se fala noutra coisa em Borba, é só no que se fala, infelizmente”, relatou hoje à agência Lusa Maria da Conceição Carapinha, proprietária e cozinheira de um restaurante situado nas traseiras do edifício da Câmara de Borba.
Os clientes que atendeu hoje à hora do almoço, contou, mais do que se preocuparem em analisar a ementa, queriam era um lugar com “vista” para a televisão para acompanharem as reportagens sobre o sucedido.
“É só no que se fala. As pessoas vêm almoçar, mas querem um espaço para estar em frente à televisão para verem a notícia, está tudo comovido”, indicou.
Maria do Carmo Vieira, que foi beber um carioca a este restaurante à hora a que a Lusa esteve no estabelecimento, deslocou-se a Lisboa, na segunda-feira, mas, mal chegou à cidade alentejana, começou logo a ouvir os relatos.
“O sobrinho de um senhor estava a dizer que viu aquilo, viu tudo”, quando circulava de automóvel na estrada entre Borba e Vila Viçosa, que chegou a ser nacional, mas, desde há uns anos, é municipal, e que “entrou logo em pânico”.
O rapaz, continuou, “saiu logo do carro para mandar parar os outros [automobilistas], senão ainda era pior”, contou Maria do Carmo, indicando que a sua própria filha passou no local na segunda-feira: “Tinha lá passado para ir levar e buscar o filho à escola. Ainda não teve que ser desta, diz ela”.
A estrada cujo troço colapsou para o interior da pedreira contígua, devido ao deslizamento de terras, rochas e blocos de mármore, era muito utilizada pelas pessoas da terra para se deslocarem ao vizinho concelho de Vila Viçosa: “As pessoas daqui nem vão à variante, aqui é mais a direito”.
E, argumentou, se o que aconteceu agora tivesse ocorrido há anos atrás, quando “a estrada tinha mais movimento”, na altura em que “as pedreiras tinham muito mais movimento”, o resultado seria pior.
“Agora, há menos movimento nas pedreiras, se calhar ainda foi a sorte disto. Mas tenho muita pena das pessoas”, lamentou, desabafando: “A pessoa nem consegue ter a cabeça no sítio com isto tudo”.
Maria José Ribeiro, de 73 anos, enfermeira reformada que viveu em Almada e regressou à terra natal de Borba após a reforma, garantiu que, desde segunda-feira, “é um pandemónio”.
“Eu não dormi quase nada, sinceramente. É uma tragédia muito grande”, disse, frisando que, “em parte, toda a gente” sabia que a estrada era “perigosa”, mas “não é agora, com este presidente” da câmara.
“Este tem culpas no cartório, toda a gente tem, mas os outros também têm”, opinou, garantindo que a população está “consternada com esta tragédia”.
Antigo trabalhador de uma empresa de transformação de mármore, não de extração, mas já reformado, Edmundo Lérias, de 63 anos, circulou nesta estrada “muitas vezes” e ainda “continuava a passar” nesta via.
“Ainda no sábado lá passei”, relatou, reconhecendo que a rodovia “já estava um bocadinho degradada, porque as pedreiras estão perto uma da outra” e, praticamente, já só existia “o espaço da estrada para passar”.
O antigo operário disse ainda não se lembrar de “nada do género” ter acontecido em Borba no passado e que, agora, esta “é uma grande tragédia”, que afetou a população: “As pessoas aqui também são todas comovidas umas com as outras, é tudo pessoal que se conhece muito bem, é complicado”.
Reportagem de Rita Ranhola da agência Lusa
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