
Antes do 25 de abril, parte importante da economia portuguesa estava nas mãos de sete grandes grupos económicos, os 'sete magníficos', com base em famílias.
Os principais grupos eram CUF (da família Mello, que tinha o Banco Totta & Açores), Champalimaud (detinha o Banco Pinto & Sotto Mayor) e Espírito Santo (detinha o BESCL). Mas também tinham grande importância o Banco Nacional Ultramarino (cujo grupo tinha interesses económicos e financeiros nas ex-colónias), o Banco Fonsecas & Burnay (possuía fortes ligações ao capital estrangeiro e estava associado a grupos como a CUF), o Banco Português do Atlântico (agregava interesses de industriais do norte) e o Banco Borges & Irmão (ligado ao grupo do banqueiro-empresário Miguel Quina).
Com a nacionalização da banca e dos seguros (em 14 e 15 de março, respetivamente) inicia-se uma vaga de nacionalizações (e também ocupação de terras). Além das empresas que são 'arrastadas' por via da nacionalização dos bancos, nos 16 meses seguintes seriam nacionalizadas empresas de petróleos, eletricidade, aviação, ferrovia, siderurgia, tabaco, cerveja, entre muitas outras.
A 'onda' de nacionalizações só termina em julho de 1976 com a 'estatização' da imprensa (nacionalização das empresas proprietárias do “Diário de Notícias”, de “O Século”, do “Diário Popular” e de “A Capital).
Antes da revolução, segundo o economista Eric N. Baklanoff, o Estado português tinha "apenas um punhado de instituições". Detinha correios, portos, indústria de armamento, Caixa Geral de Depósitos (CGD) e participações minoritárias na TAP, siderurgia nacional e petrolíferas.
Com as nacionalizações o Estado fica a dominar a economia. Um estudo de Maria Belmira Martins e José Chaves Rosa, de 1979, indicou que 244 empresas foram nacionalizadas diretamente nos 16 meses entre março de 1975 e julho de 1976.
Em 1979, o então ministro das Finanças Sousa Franco contabilizava 1.022 empresas participadas diretamente pelo Estado.
As nacionalizações viriam a ser consagradas na Constituição de 1976, que as considerava "conquistas irreversíveis das classes trabalhadoras”.
Ao longo dos anos de 1980 são dados passos para a liberalização económica e abertura da atividade financeira aos privados (a Sociedade Portuguesa de Investimentos, que deu origem ao banco BPI, é fundada em 1981), até tendo em conta a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE).
As bolsas de Lisboa e Porto, encerradas por exigência militar após o 25 de Abril, reabrem na totalidade em 1977 (Lisboa) e 1981 (Porto).
Mas só com a segunda revisão constitucional, em 1989, fica finalmente consagrada a abertura generalizada às privatizações, através da alteração radical do artigo 83º, que deixou de defender a irreversibilidade das nacionalizações. Em 1990, o Parlamento aprova a lei-quadro das privatizações.
Era a "normalização democrática” ou a “consequência natural do neo-liberalismo”, dependendo da perspetiva política.
Com as privatizações, os empresários que tinham exilado, como Espírito Santo, Mello, Champalimaud, regressam e reconstroem as fortunas.
Se em 1975 a nacionalização da banca foi uma medida muito consensual, à medida que os anos passaram foi sendo vista como radical.
Para uns, era necessária para colocar a banca ao serviço da economia, retomar o fluxo de crédito, manter a atividade económica e o emprego e conter a saída de capitais. Para outros, foi um grande erro, pois a banca estava sólida, era gerida por profissionais e as nacionalizações prejudicaram a economia portuguesa.
Em 1999, num debate no Banco de Portugal, Vasco Gonçalves (primeiro-ministro aquando das nacionalizações) garantia que estas salvaram Portugal da bancarrota.
"O processo de nacionalizações não foi uma medida voluntarista, tomada pelos comunistas", disse Vasco Gonçalves, para quem - perante a crise económica mundial, a fuga de capitais, a subida dos salários, a diminuição das poupanças e o impacto da descolonização - o colapso só foi evitado "retirando o poder económico ao grande capital".
Cinquenta anos depois das nacionalizações de 14 de março, esses bancos foram consolidados em grupos ou desapareceram. O BCP comprou o BPA e depois o Banco Pinto & Sotto Mayor, o Santander comprou o Banco Totta & Açores, o BPI comprou o Banco Fonsecas & Burnay. Já o BES colapsou e desapareceu em 2014 (o Novo Banco ficou com parte da sua atividade).
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