"É uma questão nacional e neste momento parece que o lítio é um mineral emergente, mas a exploração não pode ser a qualquer preço. Portugal não pode querer ser o maior produtor de lítio da Europa, quando se está a pôr em causa o direito à vida nas regiões", afirmou Anselmo Gonçalves, investigador do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT).
Este especialista falava à margem do primeiro Fórum Nacional para discutir a problemática do lítio, que hoje juntou especialistas, representantes de movimentos ambientalistas e membros de vários grupos cívicos de diferentes pontos do país para onde foram apresentados pedidos de prospeção e concessão para lítio e outros minerais.
Organizada pela Quercus, esta iniciativa decorre no Barco, localidade do concelho da Covilhã, distrito de Castelo Branco, que está a poucos metros da serra da Argemela, sob a qual recai um pedido de concessão mineira que abrange mais de 400 hectares.
Uma exploração que a população teme que venha a ser aprovada, pondo em causa o ambiente a paisagem, os cursos de água, a fauna e a flora e representando um "golpe severo" para a saúde e qualidade de vida dos que ali vivem, como apontou o presidente da Junta de Freguesia do Barco, Luís Morais.
"Estamos a falar da poluição sonora com o ruído constante do equipamento e das explosões, da poluição atmosférica com a quantidade de pós produzida e que se depositará nas plantas e árvores, da poluição das águas e da alteração de cursos subterrâneos e da contaminação dos lençóis freáticos e do rio Zêzere", disse.
Prejuízos que o investigador do CEGOT também aponta: "Rasgam-se colinas, altera-se a vegetação, exterminam-se as espécies e contaminam-se os lençóis de água", salientou.
Anselmo Gonçalves assume que "temporariamente" as explorações podem levar riqueza aos territórios, mas reitera que o passivo ambiental e os danos para a saúde permanecem por muito mais tempo.
O receio dos impactos que a "grande corrida" a este mineral pode representar nomeadamente ao nível das zonas protegidas é também destacado pelo presidente da Quercus, Paulo do Carmo.
Sublinhando que a Quercus e os demais movimentos presentes não estão contra o lítio, mas sim contra a forma como o processo está a decorrer, Paulo do Carmo sublinha que as eventuais explorações não podem ser aprovadas quando estão em causa áreas protegidas, 'habitats' naturais e prejuízos para a vida das pessoas.
Paulo do Carmo garantiu que a causa "alerta lítio" (nome dado a uma petição pública e a uma plataforma digital informativa) irá manter-se para informar e mobilizar.
Por outro lado, mostrou-se esperançado de que, perante a posição das pessoas, o Governo consiga perceber "que tem de recuar" e defendeu que este assunto deve entrar "na agenda política".
Uma opinião que é partilhada pelo presidente da AZU - Ambiente nas Zonas Uraníferas, António Minhoto, que exigiu que os partidos políticos se pronunciem sobre a questão na próxima campanha eleitoral.
"Qual é a posição dos partidos sobre a exploração de lítio? E em que condições? Nestas eleições os partidos têm de ser claros nesta matéria", acrescentou.
António Minhoto também ressalvou que a AZU não está contra a exploração de recursos, estando, todavia, "de pé atrás".
Para este responsável, não é possível avançar com este processo sem olhar para os "erros trágicos" do passado e que permanecem sem resolução, seja ao nível do urânio, seja no volfrâmio, com destaque para as Minas da Panasqueira, que também ficam perto da localidade do Barco e cujos riscos ambientais têm estado na ordem do dia.
Por seu turno, a Câmara da Covilhã garante que estará ao lado das populações, tal como referiu Hélio Fazendeiro, chefe de gabinete do presidente deste município que é liderado pelo socialista Vítor Pereira.
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