Luís Montenegro disse já ter falado hoje telefonicamente com Marcelo Rebelo de Sousa, a quem solicitou uma audiência urgente que, segundo adiantou, poderá realizar-se na quarta-feira.
“Relativamente à intervenção do diretor executivo do SNS, nós vemos com muita, muita, muita preocupação aquilo que o principal responsável pela gestão do sistema, do SNS, diz ao país, porque de uma assentada quer-nos parecer que isto é um grito ou de incapacidade, impotência para resolver a organização do SNS, nomeadamente a componente das urgências”, afirmou o líder social-democrata, que falava aos jornalistas após uma visita ao Hospital de Chaves.
Ou então - prosseguiu - "é um grito de desespero para que o poder político, o Governo, o Ministério da Saúde, o primeiro-ministro possa efetivamente dar condições de funcionamento a uma direção executiva que esteve um ano para ter os seus estatutos aprovados e que, manifestamente, não está confortável com a situação que tem diante de si”.
O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde avisou, em entrevista ao jornal Público, que se os médicos não chegarem a acordo com o Governo, novembro poderá ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS.
Fernando Araújo considerou que os médicos têm de reclamar direitos, “mas de uma forma que seja eticamente irrepreensível”.
Para o líder do PSD, a declaração de Fernando Araújo relativamente ao mês de novembro, que é daqui a sete dias, é motivo para “intranquilizar a população portuguesa de uma forma transversal”.
“Vejo com muita preocupação esta declaração do diretor executivo do SNS, admito que ela seja feita com honestidade intelectual, com sentido de realismo, mas não posso escamotear que ela provoca um alarmismo grande no país”, insistiu.
Sobre o apelo à ética, Montenegro disse não acreditar que Fernando Araújo esteja a “fazer uma chantagem psicológica sobre os médicos”.
“Eu admito que isto seja mesmo um grito de desespero de quem está de mãos atadas sem instrumentos para resolver o problema, mas isso é uma responsabilidade que cabe ao Governo, ao ministro do Saúde e ao primeiro-ministro”, frisou.
Pela parte do PSD, acrescentou, solicitou “de imediato” uma audiência ao Presidente da República para pedir ao mais alto magistrado da nação que, junto do Governo, exija uma resposta".
"Porque é inconcebível que sejam aqueles que gerem o SNS a dar ao país um sinal de incapacidade e de intranquilidade”, salientou.
O presidente do PSD defendeu uma “convergência nacional”, não só partidária, nem política, mas também dos profissionais de saúde, para resolver um problema que hoje está a inquietar muitas famílias, e considerou que a “política de saúde foi errada nos últimos oito anos”.
“Há hipocrisia política na política de saúde do Governo PS. Ainda agora aqui, no hospital de Chaves, comprovei que a maior parte da oferta dos serviços, nomeadamente de urgência, só se consegue efetuar à conta da contratação externa de prestadores de serviços que vêm colmatar a falha de profissionais no SNS”, apontou.
No final da visita a este hospital, o líder do PSD revelou inquietações e dúvidas relativamente ao acesso à saúde nesta região.
Também o presidente da Câmara de Chaves, o socialista Nuno Vaz, alertou na segunda-feira para um mês de novembro crítico no hospital daquela cidade devido à indisponibilidade dos médicos para realizar mais horas extraordinárias além das 150 previstas na lei, podendo vir a ser afetados os serviços de urgência pediátrica, internamento e urgência de ortopedia e urgência médico-cirúrgica.
O autarca teme uma perda significativa da capacidade de resposta daquela unidade hospitalar que serve os concelhos de Chaves, Boticas, Montalegre e Valpaços, e avisou para os “constrangimentos e congestionamentos” decorrentes da concentração de serviços na sede social do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), em Vila Real.
Luís Montenegro está a cumprir uma visita de três dias ao distrito de Vila Real, entre segunda e quarta-feira, no âmbito do programa “Sentir Portugal” que tem como objetivo o contacto com a realidade local.
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