“Quando muitos esperavam divisão, manifestámos pronta solidariedade, e quando alguns esperavam hesitação, demonstrámos uma vez mais a nossa capacidade de rápida adaptação. Precisamos agora de aproveitar da melhor forma este ímpeto renovado para aprofundar a solidariedade que está na génese da Aliança Atlântica”, sustentou Helena Carreiras.
A ministra da Defesa falava na sessão de encerramento da conferência “A Aliança Atlântica depois da invasão da Ucrânia”, que decorreu hoje em Lisboa e foi organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e pelo Instituto de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa.
A governante defendeu que essa solidariedade na Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) passa por “aprofundar a articulação, cada vez mais estreita, entre os interesses” dos Estados Unidos e os “interesses da segurança e defesa europeia”.
“É essencial reafirmar o que Portugal tem sempre defendido: que a defesa europeia se faz com a NATO e que a Aliança permanece o pilar da nossa defesa coletiva. Ao contribuirmos para a dissuasão dos nossos adversários, estamos a contribuir para um mundo mais seguro”, referiu.
Elencando várias medidas de apoio de Portugal à Ucrânia — como o envio em curso de 170 toneladas de “equipamento militar, medicamentos e viaturas para a Ucrânia”, ou a disponibilização de “40 camas no hospital das Forças Armadas para tratamento médico de feridos” -, Helena Carreiras defendeu que se trata de “sinais evidentes do empenho do Estado português em assumir os seus compromissos na defesa europeia que é também, necessariamente, a defesa de Portugal”.
Qualificando a invasão russa de “agressão assumidamente ilegal” e “injusta”, Helena Carreiras apelou a que se atente aos “efeitos de médio e longo prazo” do conflito, “e na forma como eles se refletirão na revisão em curso do próximo conceito estratégico da NATO”, que deverá ser aprovado na cimeira de chefes de Estado e de Governo da Aliança, em 30 de junho, em Madrid.
Na análise desses efeitos a longo prazo, a ministra da Defesa quis destacar “três eixos” que Portugal deverá acautelar, começando por referir que “é preciso assegurar que o trabalho desenvolvido no âmbito da Bússola Estratégica da União Europeia (UE) é devidamente tido em conta”.
“Os ganhos da defesa europeia devem ser consolidados e não podem ser postos em causa. Nesse documento, é já previsto o reforço da cooperação com a NATO, nomeadamente na resposta a ameaças híbridas e emergências complexas, ou ainda ao nível da mobilidade militar, por exemplo”, referiu.
Carreiras apelou a que se vá “mais longe” na complementaridade entre a NATO e a UE, salientando que o “objetivo da política comum de segurança e defesa mais consolidada, será sempre equivalente ao objetivo de uma Aliança Atlântica também ela mais coesa e capaz”.
Num segundo eixo, a ministra da Defesa referiu que, “apesar do impacto da invasão da Ucrânia”, não se podem descurar “outros desafios” que também estão a decorrer no “espaço euro-atlântico”, apelando a que não se ignore “o flanco sul”.
“As regiões do Sahel e da África ocidental, bem como o Atlântico, devem reter a nossa atenção e os nossos melhores esforços. A participação de Portugal nas dinâmicas de defesa europeia deve manter-se assim uma prioridade, mas enquadrada pela proteção dos nossos interesses a sul”, indicou.
No que se refere ao terceiro eixo, Helena Carreiras referiu que tanto a complementaridade entre a UE e a NATO como a atenção ao sul sejam incorporados na “futura revisão” do conceito de Defesa Nacional, cuja retoma do processo anunciou estar para “muito breve”.
A ministra da Defesa anunciou ainda que, depois de, em 2021, ter decorrido a primeira edição do prémio ‘FLAD Atlantic Security Award’ — uma parceria entre a FLAD, o Centro do Atlântico e o Instituto de Defesa Nacional — será lançada uma segunda edição este ano, visando “incentivar a investigação sobre temas de segurança e defesa que afetam o Atlântico”.
“Espero que o conhecimento que possa ser gerado pelos futuros projetos premiados ajude à formulação de políticas públicas informadas e mais sustentadas sobre um espaço que permanece, e permanecerá, vital para a segurança de todos nós”, sublinhou.
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