“A principal dificuldade que nós tivemos foi a rotina” e “tentar gerir o estado emocional de cada militar”, que estão confinados num mesmo espaço durante todo o tempo a executar as mesmas tarefas, sem poderem sair, disse aos jornalistas o comandante do 2.º contingente, major de infantaria Ricardo Estrela.
Os militares que hoje aterraram no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, são da Brigada Mecanizada do Exército e integraram durante quase sete meses o 2.º contingente português como Força de Reação Imediata na missão da NATO no Afeganistão, que no total ascende a 189 elementos.
O 3.º contingente, que partiu no fim de semana, incluiu pela primeira vez um grupo de 12 elementos das operações especiais, entre militares do Exército e da Marinha, que irão prestar aconselhamento e formação às forças armadas e de segurança afegãs.
O major Ricardo Estrela disse que, apesar de “haver atentados praticamente todas as semanas em Cabul”, só houve um momento de “maior susto” para a força portuguesa, em novembro passado, quando um atentado a dois quilómetros da base militar do aeroporto internacional Hamid Karzai obrigou os militares portugueses a prestar apoio às forças afegãs.
Em Cabul, acrescentou, “as coisas estão ligeiramente calmas, ocorrem atentados, mas fora de Cabul, e por todo o país, há confrontos ou atentados de grupos terroristas”.
Na cerimónia de receção de hoje, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, agradeceu o empenho dos militares na “bem sucedida” missão, apesar do “difícil contexto”.
“O objetivo é criar condições para que as forças políticas no Afeganistão tenham a estabilidade necessária para encontrar os equilíbrios políticos, o consenso e também as infraestruturas em termos de instituições do Estado, para que o Afeganistão não precise deste apoio internacional”, disse, admitindo que “vai demorar algum tempo”.
À chegada a Figo Maduro, os militares foram recebidos com aplausos, gritos de alegria e lágrimas pelas famílias, com quem estiveram uns minutos antes da formatura para a cerimónia oficial de receção, na qual participaram o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e o chefe do Estado-Maior do Exército, general Nunes da Fonseca.
“Foi um orgulho. Já tinha passado por isto há três anos, quando fiz uma missão no Kosovo, mas agora esta foi diferente. [Na anterior missão] só tinha a Iris, agora tenho a Maína”, disse à Lusa Ricardo Amaro, soldado atirador, que foi abraçado pelas duas filhas pequenas, mal entrou o portão do hangar.
Emocionado, o militar disse que dará por terminada a vida militar quando completar o contrato, com prazo máximo de seis anos, e que, aos 27 anos, tentará encontrar uma nova forma de vida, mais próxima da família.
“Não penso noutra [missão], porque estou a terminar o meu contrato, faço sete anos de tropa e para mim já acabou. Estou para dar tudo pela minha família. Uma vida nas Forças Armadas é um bocado complicado de fazer família”, explicou o soldado.
Ao lado, duas psicólogas do Centro de Psicologia Aplicada do Exército observavam aquele militar, incentivando-o a não conter a emoção no reencontro com a família.
Em declarações à Lusa, Célia Carvalho, a psicóloga que acompanhou a força naquele teatro de operações, disse que os militares são preparados ainda no terreno para o momento do regresso e para a fase que se segue, que começa num primeiro momento com a “lua de mel” e depois pode evoluir para alguma frustração no regresso à rotina familiar e profissional.
O objetivo é que os militares, passando por todas as fases, cheguem à da “readaptação”. Seis meses depois do regresso, as psicólogas avaliam a necessidade de alguma intervenção.
“Se não estiver [readaptado], tentamos fazer alguma intervenção, no sentido de o ajudar” a voltar à vida anterior, disse, sublinhando que “por vezes existem dificuldades ao longo deste ciclo emocional de seis meses”.
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