“Estou aqui hoje [segunda-feira] porque quando vi o resultado das eleições de ontem [domingo] e tudo o que se seguiu, com a dissolução da Assembleia, senti-me muito zangada”, disse à Lusa Emma, de 24 anos.
A manifestação, que começou às 20:00 (19:00 em Lisboa), juntou milhares de pessoas, a maioria jovens, que chegaram aos poucos e depressa encheram a Place de la République.
Para Emma, o protesto mostra que “os jovens são muito politizados” e “querem melhorar o estado do planeta, compreendem que vão ter de lidar com a imigração, que vão ter de aceitar as pessoas, e que aceitar a extrema-direita não vai ajudar o futuro do planeta”.
“Na geração dos meus pais e avós, há um certo cansaço e talvez uma visão das coisas que faz com que já não acreditem muito nelas e por isso não votam, mas é uma visão das coisas que não é bem aceite pelos jovens”, acrescentou.
A convocatória lançada por organizações juvenis, como a União Estudantil, Jovens Ecologistas e Jovens Insubmissos, foi divulgada através das redes sociais com o lema “Os jovens estão-se nas tintas para a Frente Nacional” – nome do partido de Marine Le Pen até 2018, quando passou a denominar-se União Nacional (RN na sigla em francês).
“Hoje estou na rua porque a Frente Nacional ganhou as últimas eleições europeias e não é normal que o movimento fascista cresça tanto, seja na Europa ou na França, e temos de mostrar que podemos ser um grande movimento de jovens a lutar contra”, disse à Lusa Camille, de 22 anos.
Vários foram os jovens que subiram ao monumento central dedicado à República, vandalizado com palavras ofensivas contra o principal candidato do RN, Jordan Bardella, para coordenar palmas e gritos, entre os quais “o mundo todo detesta Bardella”, “Paris Paris Antifa”, “Que se lixe a Frente Nacional” e “Palestina livre”.
Relativamente à decisão do Presidente francês, Emmanuel Macron, de dissolver o parlamento e convocar eleições legislativas antecipadas, Camille considera que “pode ser complicado se os partidos de esquerda não fizerem uma união”.
“Queremos dizer um grande não à extrema-direita”, afirmou Camille, referindo que ”se todos os jovens forem votar podem fazer uma boa oposição ao fascismo”.
Os manifestantes fizeram-se acompanhar de várias bandeiras de organizações de jovens, equipamento pirotécnico e também de cartazes como “A minha França manterá a cabeça erguida”, “O antifascismo é um assunto de todos” e “Unam-se pelo amor de Deus!”.
A polícia destacada para o local acabou por condicionar o trânsito, para que os manifestantes pudessem circular sem acidentes, já que muitos dos condutores que passavam pela praça acabavam também a juntar-se ao protesto, ao buzinar em forma de apoio.
A porta-voz da União Estudantil, Eléonore Schmitt, disse à agência de notícias France-Presse que a manifestação pretende “apelar à união das pessoas para mostrar que os jovens rejeitam o que aconteceu ontem [domingo] com os resultados das eleições europeias”, referindo a necessidade de “uma revolta popular unida”.
Em comunicado, a Confederação Geral do Trabalho francesa apelou também aos trabalhadores que participassem “em todas as iniciativas de mobilização contra a extrema-direita e contra as políticas de Emmanuel Macron”.
Para segunda-feira à noite estavam programadas outras manifestações em cidades como Marselha e Lille.
A RN venceu de forma destacada as eleições europeias, com 31,37% dos votos, elegendo 30 dos 81 eurodeputados pela França, enquanto a coligação do partido do Presidente francês (Renascimento) obteve 14,6%, garantindo 13 lugares no Parlamento Europeu.
Na sequência dos resultados, Macron anunciou eleições legislativas para 30 de junho e 07 de julho.
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