Miguel Albuquerque não vai em sondagens. Acredita que no domingo o PPD/PSD terá uma vitória expressiva nas eleições regionais da Madeira e que assim irá derrotar António Costa no tabuleiro que o próprio primeiro-ministro colocou em cima da mesa quando disse que, este ano na Madeira, queria fazer um três em um: vencer as eleições Europeias, as regionais e nacionais.
Em entrevista ao SAPO24 diz que se não tiver uma “votação expressiva” que a região corre o risco de ter um governo com Bloco de Esquerda e comunistas, sublinhando que “tudo o que é esquerda significa estagnação do investimento, regressão social e diminuição daquilo que é o progresso e desenvolvimento da nossa sociedade”.
Não vai em geringonças - “podem inventar as teorias que quiserem” que, na sua opinião, “o partido que ganha deve constituir governo” - nem nas conversas contra os grupos económicos que a esquerda diz dominarem a Madeira. “Ainda bem que temos grupos económicos, a não ser que queiram fazer como na Venezuela onde não há economia, não há grupos económicos, não há comer, não há investimento, não há medicamentos e não há liberdade”. E sublinha que fazer “política sem princípios, sem valores, onde nos podemos desnortear, não vale nada. É um vale tudo”.
Reconhece os problemas da região e afirma que “as únicas sociedades sem problemas são as estalinistas onde, de facto, não há liberdade de informação, portanto, nenhum problema”.
Não lhe faz confusão o PSD ter sido, na história democrática da Madeira, o único partido a governar porque “o é que é saudável é respeitar, como tem sido respeitada, a vontade dos eleitores. Nós não estamos lá por captação de poder por meios ilícitos. O povo é soberano, o povo tem votado no PPD porque reconhece em todos estes anos que o PPD tem feito obra”.
O seu alvo é a esquerda e não o governo da República - “no dia em que a gente concordar com esquerda, com comunistas, comunistas radicais o país está perdido” -, e a autonomia é a sua bandeira.
Se nada do que acima está escrito garantir a continuidade do PSD no governo da Região Autónoma da Madeira, demite-se “Assumo as minhas responsabilidades e aqui sou o primeiro responsável. Se perder, claro, tenho de me demitir. Não formo governo. O primeiro-ministro é que perde eleições e forma governo para tramar o país”.
Há quatro anos o PSD conseguiu a maioria absoluta por um deputado, o resultado das autárquicas não foi nada famoso e agora as sondagens colocam a possibilidade de não ter maioria absoluta. O que é que aconteceu para nos últimos quatro anos não ser clara, como antes, uma vitória do PSD?
Não se sabe se é clara ou não porque as sondagens também não indicam que não vamos ter a maioria absoluta. Vamos esperar. Acho que vamos ter uma maioria expressiva, como costumo dizer.
Acha que não vai ser como dizem as sondagens?
Acho que vai ser melhor do que as sondagens.
Corremos o risco de, se o PPD não tiver aqui uma votação expressiva, termos um governo com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista
Disse recentemente que "ou o PPD tem uma votação, como nós esperamos, expressiva, de confiança do povo madeirense, ou corremos o risco de ganharmos as eleições e eles [esquerda] chumbarem o nosso programa no parlamento e, de repente, temos aí um governo com comunistas, que são contra tudo aquilo que nós sempre defendemos". Tem medo de perder?
Não tenho medo, mas tenho que alertar o povo madeirense porque dada a situação que aconteceu no continente onde quem perdeu eleições, através de uma coligação negativa, formou governo, nós corremos o risco de, se o PPD não tiver aqui uma votação expressiva, termos um governo com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista. Ou seja, a menos que o PPD ganhe e mantenha uma maioria expressiva de votos, corremos o risco de acontecer o que aconteceu no continente o que seria a desgraça da Madeira.
Porquê?
Tudo o que é esquerda significa estagnação do investimento, regressão social e diminuição daquilo que é o progresso e desenvolvimento da nossa sociedade.
Uma das palavras que mais utiliza no seu discurso é autonomia. Até onde é que acredita que pode ir a autonomia da Madeira?
Quanto mais lata for melhor. Precisamos de autonomia que é um instrumento, no fundo, para uma ilha ultraperiférica, como a nossa, poder assegurar o desenvolvimento através de estações próprias. E isso é que tem permitido, desde 1976, o subdesenvolvimento da Madeira que passou de uma das regiões mais pobres do país e da Europa para uma das mais desenvolvidas. Ou seja, é a possibilidade democrática de encontrarmos soluções adequadas ao nosso desenvolvimento.
Ainda bem que temos grupos económicos, a não ser que queiram fazer como na Venezuela onde não há economia
Quando se fala da influência dos grupos económicos na Madeira, isso não afeta a autonomia?
Os grupos económicos existem e ainda bem que existem, desde que não interfiram com as decisões políticas. O que nós precisamos é de grupos económicos, grupos empresariais com escala para poderem penetrar nos mercados internacionais. Nós hoje temos na Madeira o maior grupo hoteleiro português, o grupo Pestana, o maior operador portuário de Portugal, o Grupo Sousa. Ainda bem que temos grupos económicos, a não ser que queiram fazer como na Venezuela onde não há economia, não há grupos económicos, não há comer, não há investimento, não há medicamentos e não há liberdade.
Estava a dizer que são bons desde que não influenciem as decisões. Não influenciam?
Claro que não. Aliás, o nosso governo está sujeito a um escrutínio democrático. Temos um parlamento eleito onde somos escrutinados todos os dias e todos os meses. Existem órgãos independentes para escrutinar as decisões do governo. Mais transparência do que isto não pode haver. Existe um Tribunal de Contas, existem tribunais, existem os partidos da oposição no parlamento... Essa ideia de que os grupos económicos são isto ou aquilo, só são para os comunistas que são contra os grupos económicos, são contra o desenvolvimento, por isso é que Portugal tem o PIB estagnado há dois anos e corre o risco de ficar atrás da Bulgária dentro de pouco tempo.
Domingo está já ali ao virar da esquina. Se ganhar sem maioria absoluta já tem algum acordo pré-estabelecido ou alguma ideia de com quem gostaria de governar?
Há uma ideia que eu tenho: coligações com a esquerda, comunistas, socialistas e comunistas extremistas caviar nós não fazemos.
A política sem princípios, sem valores, onde nos podemos desnortear, não vale nada. É um vale tudo
É a única ideia pré-estabelecida?
Não é uma ideia são os princípios. Nós não abdicamos de princípios, nem de doutrina, nem de valores. A política sem princípios, sem valores, onde nos podemos desnortear, não vale nada. É um vale tudo.
Se o PS ganhasse sem maioria colocava, se possível, a hipótese de fazer uma geringonça à direita?
Não, o PPD tem de ganhar as eleições. Podem inventar as teorias que quiserem, o partido que ganha deve constituir governo.
Nestes 43 anos a Madeira mudou imenso, houve muito desenvolvimento, deixou de ser umas das regiões mais pobres da Europa, como diz, mas continuam a existir alguns problemas estruturais. O risco de pobreza continua elevado, o salário médio é inferior ao nacional...
Isso não é verdade. O salário não é verdade e o risco de pobreza deriva de um risco de fatores analisados pela primeira vez em 2007 onde esse risco de pobreza é elevado para todas as regiões ilhas e para regiões periféricas e ultraperiféricas da Europa. A Sardenha tem risco de pobreza elevado, as Canárias mais elevado do que o nosso, até porque tem mais população, os Açores também mais e a Sicilia tem quarenta e tal por cento. Portanto, são um conjunto de fatores que derivam da sua situação estrutural, da falta de escala de mercado que leva a que esse risco seja elevado. Ou seja, se estamos numa região longe dos mercados, longe do território continental, esse risco é agravado. Não me vai dizer que a Sardenha é pobre, a Sardenha tem um risco de pobreza exatamente por ser uma ilha.
As únicas sociedades sem problemas são as estalinistas onde, de facto, não há liberdade de informação, portanto nenhum problema
Mas obviamente que existem problemas, porque não se resolve tudo em quatro anos.
Todas as sociedades têm problemas e temos de continuar a resolver. As únicas sociedades sem problemas são as estalinistas onde, de facto, não há liberdade de informação, portanto nenhum problema.
O que é que falta fazer que não foi feito nestes 43 anos de governação do PSD?
Falta continuarmos a libertar-nos de um conjunto de galhetas para podermos ter mais investimento, mais captação de riqueza, mais e melhores postos de trabalho, maior crescimento económico porque só com maior crescimento económico, melhores empresas, maior penetração nos mercados internacionais como estamos a fazer é que podemos trazer mais rendimento para as família. A riqueza tem de ser criada para depois ser repartida e isso é que é fundamental fazer.
O povo tem votado no PPD porque reconhece em todos estes anos que o PPD tem feito obra, é um partido que lhes inspira confiança
Considera saudável que um único partido esteja há 43 anos no governo?
Acho que o é que é saudável é respeitar, como tem sido respeitada, a vontade dos eleitores. Nós não estamos lá por captação de poder por meios ilícitos. O povo é soberano, o povo tem votado no PPD porque reconhece em todos estes anos que o PPD tem feito obra, é um partido que lhes inspira confiança, é um partido combativo que defende intransigentemente os interesses dos madeirenses e portossantenses, mesmo quando está em causa o próprio partido a nível nacional. Temos coragem, temos combatividade, temos fibra para defender os madeirenses. O que eles querem é isso.
Sente que as pessoas acham que a sua governação é uma linha de continuidade ou está a imprimir a sua marca?
Cada governo tem o seu tempo, mas obviamente que o que nós deixamos na Madeira é aquilo a que os madeirenses estão habituados: governar, tomar decisões, perder pouco tempo na conversa fiada e andar para frente. Isso é que é fundamental.
Mas sente que Miguel Albuquerque já é um nome na história da Madeira?
Isso é um problema que a mim não me preocupa nada. A história fica para os historiadores. Não temos distanciamento histórico para analisar essas situações.
Sente o peso da herança de Alberto João Jardim?
O peso é ótimo, temos uma região em desenvolvimento, vamos continuar a fazer as políticas que têm de ser feitas, recuperarmos da crise. Neste momento temos um crescimento económico a 2,3% aos 72 meses, temos uma taxa de desemprego de 6,9%, a mais baixa em oito anos, temos saldo positivo na balança comercial, ou seja pelo terceiro ano consecutivo exportamos mais do que importamos, temos as finanças públicas em ordem com seis saldos orçamentais positivos. Temos redução de impostos para as famílias e para as empresas, temos neste momento um conjunto de reforço de devolução de rendimentos às famílias, desde a redução das creches em 40%, a redução dos passes sociais para 30 e 40 euros, o kit bebé de apoio à natalidade, temos um conjunto de empresas que só pagam 13% de IRC, queremos apanhar para o ano a Irlanda... portanto as coisas estão a correr bem.
Temos que enfrentar o PS porque hoje este primeiro-ministro, e este PS, é pouco escrutinado e muita gente no centro-direita tem medo de combater o primeiro-ministro e dizer aquilo que é a verdade
A presença de Alberto João Jardim na sua campanha é uma surpresa em relação a 2015. Ainda na quinta-feira esteve consigo no palco no comício na Praça do Povo, no Funchal. Porque é que aconteceu?
Porque numa situação destas, quando Lisboa e toda a máquina do partido mexicano do regime que é o PS que domina toda a vida, tudo o que há em Portugal, está em força aqui na Madeira, temos de dar um sinal de unidade para refrear os ímpetos de mexicanização do Partido Socialista. E temos que enfrentar o PS porque hoje este primeiro-ministro, e este PS, é pouco escrutinado e muita gente no centro-direita tem medo de combater o primeiro-ministro e dizer aquilo que é a verdade.
Está a falar da estrutura do PSD no continente?
Muitos políticos do centro-direita vão atrás das conversas dele, vão atrás do politicamente correto e os partidos de centro-direita em Portugal vão perdendo a sua identidade e sobretudo vão perdendo a sua combatividade. Nós não temos que concordar com a esquerda, no dia em que a gente concordar com esquerda, com comunistas, comunistas radicais o país está perdido.
Acha que o PSD é mais PSD na Madeira do que é no continente?
O que eu acho é que o Rui Rio esteve muito bem no último debate, mas é preciso neste momento o primeiro-ministro ser escrutinado. Se o que se passou com os enfermeiros ou com os motoristas se passasse com um governo de centro-direita você ia ver o que é que ia acontecer no país, o que é que eles escreviam e diziam nas televisões. Os critérios...
São diferentes?
Claro. Toda a gente percebe isso.
Ele [António Costa] é que disse que estava obcecado com a Madeira e que ia fazer três em um aqui: ganhar as Europeias na Madeira, ganhar as regionais e as nacionais
Muitas vezes acusam-no de ter um discurso contra o governo da República, mas ontem deixava claro que era contra o governo socialista de António Costa.
Exatamente, o governo socialista de António Costa, não tenho nenhum problema em dizê-lo. Ele é que disse que estava obcecado com a Madeira e que ia fazer três em um aqui: ganhar as Europeias na Madeira, ganhar as regionais e as nacionais. Já perdeu as Europeias, penso que apesar de o Carlos César ter estado aqui há quinze dias e dito que já cheirava a vitória, que o PS vai perder no domingo. Portanto, vamos ver.
A teia política da Madeira muitas vezes não chega ao continente, mas dirigiu-se precisamente ao continente para fazer um desmentido das acusações de toxicodependência. O que o levou a fazer um desmentido ao nível nacional e num programa de grande audiência como é o Programa da Cristina.
Fazia lá como fazia em qualquer lado.
Mas fez lá.
Porque achei exatamente que tinha mais audiência.
E sentiu que era importante esclarecer aquele boato?
Senti porque, hoje, estas agências de comunicação têm um poder de penetração muito forte e têm meios tecnológicos que deixam uma pessoa com muito pouca capacidade de reação.
Ficou sem reação quando surgiu o rumor?
Não fiquei sem reação, mas a única maneira de responder é termos um canal com audiência para podermos desmentir aquilo que não passa de uma calúnia.
Mas onde é que nasceu esse rumor? Foi agora na altura da campanha?
Não já começou antes, estava muito bem preparado. Começou nas redes sociais e isto é feito de forma científica. Toda a gente sabe como as coisas funcionam.
Se for o primeiro presidente do PSD Madeira a não vencer uma eleição regional com maioria absoluta considera isso uma derrota pessoal?
Não. Considero que o que é importante é o PSD ganhar as eleições e ganhar bem.
Não pondera uma demissão caso haja um resultado fora do esperado?
Se perder as eleições com certeza que me demito. Assumo as minhas responsabilidades e aqui sou o primeiro responsável.
Demite-se?
Se perder, claro, tenho de me demitir. Não formo governo. O primeiro-ministro é que perde eleições e forma governo para tramar o país.
Mas não assume o lugar como deputado?
Isso penso que não, depois a gente vê.
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