“Não conheço ninguém que se tenha batido e referido tão bem a essa ideia maior que é a da liberdade, como o doutor Mário Soares”, disse à agência Lusa Maria João Seixas.

O ex-Presidente da República “deixa um legado vivo, tão vivo quanto ele era, e temos que saber honrar e inspirar-nos [nele]. Talvez depois da morte muita gente se venha a inspirar no que ele fez e no modo como o fez”, afirmou.

A jornalista recordou duas situações que viveu com Mário Soares: o lema da campanha presidencial de 1986, “Soares é fixe”, e a terceira vez que se candidatou à Presidência da República, em 2005.

“A primeira porque não é muito normal alguém tratar o candidato presidencial por ‘fixe’, e ele adorou, deu-lhe imenso gosto, e dá ideia da proximidade que ele tinha connosco; na terceira, que ele perdeu, houve uma coisa que me surpreendeu”, disse.

A surpresa foi o facto de que Mário Soares “estava absolutamente convencido que as pessoas de idade iam ver no seu esforço um exemplo para elas próprias de sentirem capazes de mais coisas do que aquelas que estavam a fazer, mas andando na rua com ele, em Lisboa, passávamos pelos jardins onde estavam essas pessoas, guardo esse desgosto e ele também, pois muitas vezes ele era quase insultado”, contou.

“Isto foi uma contradição nos termos, entre o que tinha sido o seu desígnio e a reação de muitos idosos, foi uma marca muito triste para ele, e para mim”, acrescentou.

Maria João Seixas que foi sua apoiante e amiga, afirmou que Mário Soares “era jovial, e um grande apreciador da boa comida, era um bom garfo”.

“Era sobretudo de uma jovialidade incansável, sem nunca parodiar, era jovial, era a alegria de viver”, sublinhou.

Para a jornalista, Mário Soares “foi tão amável no fim da vida, que até deu tempo para as pessoas encarregues das cerimónias terem tempo para tratarem de tudo com outro rigor”.

Mário Soares morreu no sábado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.

O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.

O corpo do antigo Presidente da República vai estar em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos a partir das 13:00 de segunda-feira, e o funeral de Estado realiza-se a partir das 15:30 de terça-feira, para o Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.

Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.

Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.