O governante falava na abertura da conferência anual organizada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) dedicada ao tema das finanças sustentáveis.
Para Centeno, os investimentos deverão assim ser orientados para tornar a economia “mais verde e sustentável”, sendo o ambiente a sua dimensão mais visível, “dado o impacto no aquecimento global e na frequência e severidade de catástrofes naturais”.
“Entre 2007 e 2016, os custos económicos de eventos meteorológicos extremos subiram cerca de 86%. Só em 2017, estima-se que estes custos tenham atingido os 117 mil milhões de euros. O adiamento da transição para uma economia com baixas emissões em carbono vai aumentar esses custos e estes serão sentidos de forma diferente em toda a sociedade, incluindo no setor financeiro”, disse.
Por outro lado, continuou, o aumento dos desastres naturais irá também afetar o setor segurador, no curto prazo, os riscos cobertos por seguros vão pressionar o setor e no médio prazo aumentar os prémios e as apólices.
“Todos os setores económicos terão que fazer a sua parte neste processo”, defendeu o ministro, recordando a importância de cumprir o Acordo de Paris, o tratado sobre mudanças climáticas assinado em dezembro de 2015 e que aponta medidas de redução das emissões de dióxido de carbono, a nível global, e irá implicar um investimento de 180 mil milhões de euros nas próximas duas a três décadas.
“Se os intermediários financeiros querem servir melhor os clientes, o investimento sustentável tem de estar no topo das possibilidades. Ignorar o fator sustentabilidade pode prejudicar a rendibilidade de longo prazo”, afirmou ainda o governante, alertando, no entanto, para a necessidade do supervisor garantir “que o que é classificado como verde é efetivamente responsável em termos ambientais”.
A presidente da CMVM, Gabriela Figueiredo Dias, disse, a propósito, que a entidade está já a ser chamada a intervir, enquanto reguladora e supervisora, “através da participação empenhada na construção do direito europeu nesta matéria e da sua incorporação e implementação a nível nacional, incluindo na supervisão”, com a missão principal, nesta fase, de “eliminar o risco de branqueamento de práticas negativas por via das finanças sustentáveis e assegurar que a informação que chega ao mercado nesta matéria é rigorosa e credível”.
“A CMVM lançará muito em breve uma consulta pública sobre este tema, alargada a todos os interessados”, anunciou a responsável.
Segundo a presidente da CMVM, “o paradigma do investimento focado apenas em retorno financeiro parece estar em crise”, sendo possível a sua substituição por modelos ajustados às novas solicitações dos investidores.
“As limitações do modelo e dos instrumentos tradicionais, por um lado, e a inquietação crescente sobre a insuficiência dos instrumentos disponíveis de poupança e proteção social, por outro, determinam uma solicitação crescente, dirigida aos responsáveis pelas políticas e agentes do mercado, de conceção de novos modelos que acomodem as preocupações de sustentabilidade dos investidores que hoje buscam um novo sentido para o investimento”, disse.
Esta tendência foi já assimilada pelos maiores investidores institucionais, como começam a confirmar alguns dados de mercado.
“Assim, o ceticismo que ainda exista deve ser substituído pela adesão a um novo paradigma de investimento, quer pelos agentes económicos, quer pelos reguladores, bem como pelo compromisso de todos os ‘stakeholders’ para com este novo mercado, orientado para objetivos de sustentabilidade, inclusividade e bem-estar social, em paralelo à procura de retorno financeiro”, referiu Gabriela Figueiredo Dias.
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