"Como acontece muitas vezes na vida, a cultura aqui foi muito política, na abertura deste festival", disse Marcelo Rebelo de Sousa, após o ato oficial, que foi fechado aos jornalistas, relatando que houve "discursos muito fortes pela Europa, pelos valores europeus, pelos direitos humanos, pelo significado da Europa, contra a xenofobia, contra o hipernacionalismo".
"O Presidente austríaco chegou a citar, a certa altura no seu discurso, o tempo de Hitler, para recordar que na altura havia democracia mas não havia democratas e agora é preciso que haja Europa e europeus e que se lute pelos valores", contou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado português disse ter-se limitado a ouvir e registar que "há verdadeiramente uma posição vital muito forte, que começa no Presidente e percorre a opinião pública no sentido de esta presidência austríaca [da União Eurpeia] só poder ser pró-europeísta".
"Espero que assim seja", vincou.
O Presidente austríaco, Alexander van der Bellen, que convidou o homólogo português para a abertura do festival de música de Salzburgo, é um político de esquerda aberto ao acolhimento de migrantes e refugiados, num país com um Governo anti-imigração, liderado pelo chanceler conservador Sebastian Kurz e no qual participa a extrema-direita.
Marcelo Rebelo de Sousa salientou que, nas palavras que ouviu no ato oficial de abertura do festival, foi também apontada a necessidade de haver crescimento e emprego, no sentido de se resolverem "os problemas dos europeus, para não dar argumentos aqueles que não estão a favor dos valores europeus".
"Estamos a assistir a uma pressão no sentido dos valores europeus, daquilo que é preciso ter: unidade, força na Europa, respeito pelos direitos das pessoas, compreensão e fraternidade e, ao mesmo tempo, resolver problemas económicos e sociais para impedir o crescimento dos populismos", afirmou.
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa e Alexander van der Bellen chegaram à praça Mozart pelas 10:30, onde ambos ouviram os hinos nacionais dos dois países, saudaram as bandeiras e fizeram a revista à guarda de honra.
Da praça Mozart seguiram a pé para a Felsenreitschule, a antiga escola de equitação de Salzburgo, onde decorreu o ato oficial de abertura do festival, num trajeto de cerca de dez minutos, saudando a população, sobretudo curiosa para cumprimentar o presidente austríaco.
Numa cerimónia fechada à comunicação social, que pôde apenas entrar para recolher algumas imagens, Marcelo Rebelo de Sousa e Alexander van der Bellen e um auditório repleto ouviram a orquestra Mozartemorchester Salzburg interpretar a abertura de "Cândido", de Leonard Bernstein, a "Balada para Orquestra op. 23", de Gottfried von Einem, e um trecho de "Salomé", de Richard Strauss.
Este ato oficial decorreu na mesma sala em que teve lugar uma das cenas finais do filme norte-americano "Música no Coração", quando a família von Trapp canta no festival de música antes de fugir da Áustria, recusando-se a compactuar com a ocupação nazi do país.
A agenda de Marcelo Rebelo de Sousa em Salzburgo prossegue com um almoço oferecido pelo governador e pelo presidente da Câmara de Salzburgo, um "breve encontro" com os representantes permanentes em Bruxelas dos 28 estados-membros da União Europeia, e uma reunião de trabalho com o presidente austríaco, seguida de uma conferência de imprensa conjunta.
O dia é finalizado com a ópera "A flauta mágica", de Mozart, evento no qual estará também presente o chanceler austríaco Sebastian Kurz.
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