"É uma fase muito mais ampla, é uma fase muito mais ambiciosa, é uma fase muito mais trabalhosa, por isso é que hoje a política conjunta destes dois Estados vizinhos, irmãos, é mais exigente do que era há 30 anos, há 40 anos, há 50 anos", afirmou, defendendo que não há motivos "nem de disputa, nem de inveja, nem de ciúme".

Marcelo Rebelo de Sousa falava no Palácio do Pardo, nos arredores de Madrid, onde chegou hoje à noite para uma visita de Estado de três dias a Espanha, que decorrerá entre segunda e quarta-feira.

Nesta ocasião, recusou falar sobre a discussão em torno do Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo: "Em visitas ao estrangeiro nunca comento a situação política, económica ou social nacional e, portanto, não iria abrir uma exceção a esse princípio que tenho adotado sistematicamente", justificou.

"Em Espanha, não irei falar de questões portuguesas", reforçou.

Em declarações aos jornalistas, o chefe de Estado sustentou que "todos os dias se vai mais longe" na presença, quer de Portugal, quer de Espanha, no espaço lusófono e na comunidade ibero-americana e que isso é "uma vantagem comparativa dos dois países" face a outros Estados-membros da União Europeia.

Neste contexto, o Presidente da República foi questionado sobre a aproximação de Angola a Espanha.

"Do mesmo modo que eu penso que o Reino de Espanha não sente ciúmes em relação a Portugal porque Portugal está a ter agora relações económicas em países que não apenas o Brasil que integram o universo ibero-americano - e têm-se multiplicado essas relações, e a presença empresarial portuguesa -, assim também Portugal não tem ciúmes e vê com apreço a presença espanhola no universo lusófono", respondeu.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que "há muito tempo que isso corresponde, de um lado e de outro, a um processo em curso".

"Todos os dias há empresários portugueses a chegarem ao universo ibero-americano, todos os dias há empresários espanhóis a chegarem ao universo lusófono. Isso é bom, é muito bom para uns e para outros. Não é motivo nem de disputa, nem de inveja, nem de ciúme", acrescentou.

No seu entender, olhar com preocupação para a aproximação entre Angola e Espanha "é ver sem perspetiva aquilo que se está a passar".

"É o mesmo que dizermos: e a Espanha não perderá um bocadinho do seu espaço de manobra nalguns países ou nalgumas economias pelo facto de empresas portuguesas alargarem o seu campo de intervenção aí?", argumentou.

Segundo o Presidente da República, "o que se está a passar, efetivamente, é que, com a democracia e com a integração europeia, e depois com o peso crescente na lusofonia, de um lado, do universo ibero-americano, do outro, entrou-se numa nova fase do relacionamento entre Portugal e Espanha, completamente diferente do passado".

Sobre a sua visita de Estado a Espanha, disse que é, "antes do mais, uma visita de retribuição" da visita que os reis Felipe VI e Letizia fizeram a Portugal em novembro de 2016, e também "uma manifestação de vizinhança, de proximidade, de amizade".

Portugal e Espanha convergem na União Europeia "em matérias tão sensíveis como a união bancária, o quadro financeiro plurianual, a política sobre migrações, a política de segurança e a política de defesa", salientou.

Marcelo Rebelo de Sousa classificou como "de excelência" as relações bilaterais económicas, culturais, sociais e políticas, e destacou o plano económico: "Vivemos talvez um período sem igual no relacionamento entre os dois países, empresarialmente".

Esta "é uma ocasião única para ir mais longe e dar um passo que é verdadeiramente um salto qualitativo no relacionamento entre o Reino de Espanha e Portugal", considerou.