Num encontro com estudantes de português, num anfiteatro da Universidade de Zagreb, Marcelo Rebelo de Sousa contou que, na noite da vitória de Portugal, o primeiro-ministro, António Costa, lhe enviou uma mensagem telefónica a perguntar: "Senhor Presidente, está a ver a votação da canção?".
"Eu estava. Ele próprio estava estupefacto, admirado por tantos votos de numa canção portuguesa - porque nós normalmente tínhamos, ou os votos da Espanha, que percebia um pouco de português, ou trocávamos os votos com a Espanha, ou tínhamos os votos de quatro, cinco países, poucos votos", explicou, provocando risos.
O Presidente da República, que respondia a uma pergunta de um estudante croata sobre o significado da vitória no festival da Eurovisão, descreveu: "De repente, começámos a ver aquilo, começou todo o português a telefonar a todo o português: Estás a ver? Vamos ganhar a Eurovisão?".
"Eu nessa noite fiquei muito feliz, mas fiquei preocupado, porque pensei: agora os portugueses acham que vão ganhar tudo na vida", prosseguiu.
Marcelo Rebelo de Sousa provocou mais risos na assistência quando relatou que no dia seguinte, quando fazia compras num hipermercado, foi abordado por uma portuguesa que lhe disse: "Presidente, logo à noite vamos ganhar o campeonato de ginástica rítmica".
"E eu disse: não, não, já ganhámos muito. E, de facto, não ganhámos o campeonato de ginástica rítmica. Mas estão a perceber o perigo? Os portugueses nesse dia, de repente, todos passaram a ter mais 20 centímetros de altura, todos cresceram. Faz lembrar o que aconteceu em Paris quando ganhámos o Euro", acrescentou.
O Presidente da República referiu que nesse mesmo sábado, dia 13 de maio, o papa Francisco esteve em Fátima e o Benfica -"dos clubes portugueses aquele que talvez seja o maior, o Presidente tem de o dizer com cuidado, porque é Presidente de todos os clubes" - ganhou o campeonato nacional de futebol.
"Foi um dia único", declarou, considerando que "não vai ser fácil ter, no mesmo dia, tantas boas notícias para portugueses diferentes".
Sobre a canção que venceu a Eurovisão, "Amar pelos dois", composta por Luísa Sobral e interpretada por Salvador Sobral, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "era diferente das outras", que eram aquelas "canções de festival, com foguetes, com macacos, com muito ruído, muita cor".
O Presidente elogiou, em particular, Salvador Sobral: "A irmã é muito boa cantora e escreve muito bonitas canções, mas o irmão é mais especial ainda do que a irmã, porque ela canta bem, mas ele canta de forma diferente, dá muita força especial à interpretação. Canta aquela canção como se fosse a última vez que canta na vida".
"Ele coloca em cada canção todo o seu ser, toda a sua alma, tudo o que é", reforçou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, aquela "canção romântica, intimista" teve tanto apoio também porque atualmente as pessoas "estão um pouco fartas do espetáculo, querem uma coisa mais próxima, mais direta, mais verdadeira, mais genuína".
No seu entender, as pessoas querem o mesmo dos políticos, "querem que os políticos sejam aquilo que são, mas querem dos cantores, querem dos escritores, querem das pessoas em geral".
Perante os estudantes croatas, o Presidente brincou também com o facto de concorrerem na Eurovisão países não europeus: "Aprendemos uma novidade na geografia, é que a Austrália agora fica na Europa. O que é bom, porque eu nunca fui à Austrália, é um sonho que tenho, ir à Austrália".
Os jovens riram-se, e Marcelo deixou-lhes um conselho, a propósito de uma oportunidade que perdeu de ir à Austrália em 1986: "Eu cometi um erro que vocês não podem cometer na vossa vida, deixar para amanhã o que devia ter feito naquele momento".
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