As posições estão a endurecer à medida que a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2023 (COP28), entra na sua reta final. No prato do dia, as declarações do secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) não caíram bem no seio internacional.

O que disse o secretário-geral da OPEP?

Numa carta enviada aos associados e aliados da OPEP, com data de quarta-feira, (e citada pela agência francesa AFP), o secretário-geral da OPEP, Haitham al-Ghais, escreveu:

"Parece que a pressão excessiva e desproporcionada sobre os combustíveis fósseis pode atingir um ponto de rutura com consequências irreversíveis, uma vez que o projeto de decisão ainda contém opções sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis", escreve o responsável. "Embora os países-membros e os seus associados levem a sério as alterações climáticas (...), seria inaceitável que campanhas politicamente motivadas pusessem em risco a prosperidade e o futuro dos nossos povos".

As reações

A OPEP tem um pavilhão próprio na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2023 realizada no Dubai. Após esta declarações serem conhecidas, sete manifestantes realizaram um breve protesto hoje de manhã, de acordo com um vídeo da organização não-governamental 350.org.

Mas, as reações não foram apenas de manifestantes. A ministra da Transição Ecológica espanhola, Teresa Ribera (cujo país detém a presidência semestral do Conselho da União Europeia) caracterizou de repugnante o repto da OPEP.

“Acho que é uma coisa muito repugnante os países da OPEP oporem-se a colocar a fasquia onde deve estar” em relação ao combate às alterações climáticas.

“Estou chocada com estas declarações da OPEP”, reagiu a ministra da Transição Energética francesa, Agnès Pannier-Runacher, citada pela AFP.

“A posição da OPEP põe em causa os países mais vulneráveis e as populações mais pobres, que são as primeiras vítimas desta situação”, afirmou.

“Nada põe mais em perigo a prosperidade e o futuro dos habitantes da Terra, incluindo os cidadãos dos países da OPEP, do que os combustíveis fósseis”, disse Tina Stege, enviada para o clima das Ilhas Marshall, que se localizam no Pacífico e estão ameaçadas pela subida das águas do mar.

“A reação da OPEP mostra que tem medo dos crescentes apelos à saída dos combustíveis fósseis e à transição energética. Existe agora uma possibilidade real que a COP28 envie um sinal sobre o início do fim dos [combustíveis] fósseis”, afirmou Helena Spiritus do Fundo para a Proteção da Natureza (WWF, na sigla em inglês).

A reta final da COP28

Numa altura em que as posições estão a 'endurecer' à medida que chegamos à parte final desta conferência, cada vez mais ouve-se falar de que os países emergentes e em desenvolvimento exigem compensações dos países ricos para assinarem o abandono dos combustíveis fósseis. Os termos “equidade” e “justo” são as palavras mais ouvidas.

Apesar da várias tentativas, os negociadores veteranos nas cimeiras climáticas da ONU encontraram um grande obstáculo a alcançar um bom acordo: a indústria petrolífera.

Com um papel fundamental nesta questão, o ministro do Meio Ambiente do Canadá, Steven Guilbeault, mostrou relativo otimismo, dizendo à AFP estar “bastante confiante” em ter uma menção aos combustíveis fósseis no texto final da COP28.

A China também relatou progressos nesta discussão, com Xie Zhenhua, enviado chinês, a afirmar que “já fizemos progressos neste assunto e penso que teremos mais muito em breve, nos próximos dias”, defendendo que se isto não for resolvido, existem poucas hipóteses de a conferência “ser bem-sucedida”.

O presidente da COP28, o sultão Al-jaber, quer um acordo até terça-feira, no oitavo aniversário do Acordo de Paris, que entrou em vigor em novembro de 2016. Nesta conferência, a Amnistia Internacional também já pediu aos governos para darem passos concretos com a eliminação "urgente" da utilização de combustíveis fósseis,.