“Libertação para as mulheres do Afeganistão” e “Governo machista, resistência feminista” foram algumas das palavras de ordem que se fizeram ouvir no topo da Avenida dos Aliados, numa concentração organizada pela Liga Feminista do Porto, que juntou mais de uma centena de pessoas, ao final da tarde.
Em declarações à Lusa, Diana Pinto, da direção da Liga Feminista, explicou que a sua “solidariedade é para com o povo afegão, enquanto vítimas de 20 anos de política imperialista dos Estados Unidos, e de política fundamentalista islâmica, por parte de grupos terroristas como os talibã, mas é, sobretudo, para com as mulheres, que, dentro deste grupo, são as que mais fragilizadas são por este regime”.
“É também uma forma de fazer pressão sobre os partidos políticos e os agentes políticos portugueses, para que tomem uma posição ao nível da concessão de asilo político às mulheres, que são as maiores vítimas, e aos seus filhos, porque é com caráter de urgência”, esclareceu a ativista, acrescentando que “as 50 vagas que foram anunciadas pelo Ministério da Administração Interna são insuficientes”.
Na quarta-feira, Eduardo Cabrita adiantou que Portugal irá começar a acolher refugiados afegãos “tão breve quanto possível”, estando previsto, numa primeira fase, o acolhimento de cerca de 50 pessoas.
“Haverá o transporte de pessoas que trabalharam com a UE ou com outras instituições para Espanha e, a partir daí, uma análise da sua situação e uma recolocação entre vários países europeus”, explicou o governante.
Sobre a possibilidade de Portugal receber refugiados afegãos que não estejam nessa situação, o ministro reconheceu a posição particularmente frágil das mulheres e de outras pessoas envolvidas na promoção dos direitos humanos no Afeganistão, mas sublinhou que não poderá haver “fluxos migratórios desordenados”.
Para Diana Pinto, “exige-se mais das entidades europeias, onde se inclui Portugal, que, durante 20 anos, fingiram não entender a gravidade do conflito que acontecia no Afeganistão e escolheram não participar, ou participaram do lado errado”.
“E, portanto, agora têm responsabilidades naquilo que é uma crise humanitária, para mulheres, especificamente, como nunca se viu ao nível dos tempos modernos”, acrescentou.
Ainda antes da hora marcada, às 19:00, já Margarida, de 14 anos, se juntava à concentração.
“Todos nós merecemos ter direitos, independentemente de sermos mulheres, homens, não binários, e o que está a acontecer no Afeganistão não representa esse tipo de direitos humanos”, disse à Lusa.
“É muito importante passar esta mensagem para o Governo português de que há uma expectativa dos cidadãos com consciência e, neste caso, das mulheres que vivem uma situação, apesar de com problemas, que é aquela que vivemos — o direito ao nosso corpo, à nossa vontade, a liberdades básicas, de estudar, de ler, de ouvir música, de não existir só com autorização de um homem — é fundamental que o Governo também seja sensível a este querer”, considerou também Manuela Matos Monteiro, de 71 anos.
Ao executivo nacional pede que dê “guarida a quem a pede”, mas não esconde o “sentimento de revolta” em relação a uma “comunidade internacional que soma erros e erros”.
Já João Lafuente, também de 71 anos, acredita que o “Governo está a responder com o mínimo que é aceitar pessoas”.
“Esse mínimo já é muito importante, não espero muito mais do que isso”, prosseguiu.
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