A intensificação dos combates entre as forças de segurança afegãs e os insurgentes, especialmente em zonas povoadas, permaneceu como “a principal causa de baixas civis”, mais de dois anos depois do fim da missão de combate da NATO naquele país, informou a organização internacional, que começou a recensear as vítimas civis em 2009.
O enraizamento do grupo extremista Estado Islâmico (EI) naquele país é outra das causas apontadas para este número recorde.
Num total de 11.418 civis, 4.498 morreram e 7.920 ficaram feridos durante o ano passado, o que representou um aumento de 3% face a 2015, de acordo com o relatório da missão de assistência da ONU no Afeganistão (MANUA) apresentado hoje.
Deste número total de vítimas civis, mais de 3.500 são crianças, um aumento de 24% em comparação com os valores anteriores.
Em relação à primeira edição deste relatório, em 2009, estes valores representam um aumento de 6.000 vítimas.
Quando contabilizadas as vítimas civis nos últimos sete anos, os números das Nações Unidas revelaram uma realidade preocupante: 24.841 civis afegãos foram mortos e 45.347 ficaram feridos entre 2009 e 2016.
“Este relatório revela a realidade cruel do conflito para os homens, as mulheres e as crianças afegãs, que ano após ano continuam a sofrer sem qualquer trégua”, disse o representante especial do secretário-geral da ONU para o Afeganistão, Tadamichi Yamamoto, apelando “a todas as partes a tomarem medidas imediatas concretas para proteger” a população civil.
“Parar os combates em áreas povoadas e em espaços civis, como escolas, hospitais ou mesquitas”, defendeu o representante.
Com as hostilidades a atingirem as 34 províncias do país, a MANUA registou um número recorde de vítimas em combates no terreno, bem como “o pior recorde de vítimas em operações aéreas desde 2009″, indicou a diretora da missão para a área dos Direitos Humanos, Danielle Bell.
Segundo a estrutura da ONU, as forças de segurança afegãs são responsáveis por “43% das vítimas”.
A estratégia do governo de Cabul e dos seus aliados ocidentais consiste em impedir, por todos os meios, que os insurgentes assumam o controlo de uma capital provincial. Para tal, os combates ocorrem muitas vezes em redor de centros urbanos, em áreas residenciais.
Os ataques conduzidos pelas forças afegãs e americanas fizeram 590 vítimas civis, incluindo 250 mortos, quase o dobro em comparação com 2015.
Em janeiro último, as forças americanas reconheceram ter feito “33 mortos e 27 feridos” durante raides aéreos realizados em “legítima defesa”, segunda as mesmas, em novembro de 2016 na localidade de Boz-e-Qandahari, na província central de Kunduz.
Sobre os mesmos ataques, a ONU apresentou o seu balanço de vítimas, “32 mortos, incluindo 20 crianças e seis mulheres, e 36 feridos, incluindo 14 crianças e nove mulheres”, e recorreu aos depoimentos de vítimas.
“As testemunhas relataram que os ataques duraram toda a noite, impedindo os habitantes de procurarem ajuda”, referiu o relatório da MANUA.
No entanto, a ONU atribui a grande maioria (61%) das vítimas civis aos “elementos antigovernamentais”, principalmente aos talibãs, mas também aos ‘jihadistas’ do Estado Islâmico, cujos ataques aumentaram “dez vezes mais” num ano.
Os extremistas do EI mataram 206 civis e feriram outros 690 em atentados que visaram a minoria xiita, principalmente na capital do país, Cabul.
A MANUA levanta a possibilidade de “crimes contra a humanidade” por causa do caráter confessional destes ataques.
A missão da ONU mencionou outro impacto da guerra na vida dos civis afegãos: os deslocamentos internos das populações que fogem dos combates.
Durante o ano passado, mais de 623.000 afegãos foram obrigados a fugir das respetivas casas, mais 30% do que em 2015, segundo o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
A difícil situação vivida no terreno também teve duras repercussões nas fileiras das forças armadas. Cerca de 6.800 soldados e polícias morreram e outros 12.000 ficaram feridos entre janeiro e novembro de 2016, um aumento de 35% em relação ao ano transato.
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