Após a sentença proferida de prisão perpétua com um período de segurança de 20 anos, o advogado de Sandrine Pissarra, Jean-Marc Darrigade, disse aos jornalistas, à saída do tribunal, que a mãe da adolescente decidiu “não recorrer”.

“Ela já aceitou a sentença proferida pelo Tribunal de Hérault para evitar impor aos seus filhos a carga emocional e a dor de um novo julgamento”, afirmou o advogado, referindo-se aos seis dos oito filhos vivos de Sandrine Pissarra (além de Amandine, um bebé faleceu no berço anteriormente).

Também o seu companheiro na época e padrasto de Amandine, Jean-Michel Cross, de 49 anos, foi considerado culpado, por ter assistido à violência e à privação de alimentos da adolescente durante quatro anos sem agir, e terá de cumprir 20 anos de prisão, uma pena mais severa do que a pedida pelo Ministério Público.

O advogado do pai de Amandine, Luc Abratkiewicz, afirmou que “o veredito está à altura da gravidade dos factos”, considerando este um “julgamento extraordinário”.

“Não é possível explicar a barbárie e a tortura”, afirmou o advogado, referindo que o seu cliente, Frédéric Flores, “não estava ali por vingança”, mas que “foi feita justiça para a sua filha”.

Antes da sentença, o procurador-geral Jean-Marie Beney pediu prisão perpétua para Sandrine Pissarra e 18 anos de prisão para o “colaborador cobarde do sistema”, Jean-Michel Cross, que “privou Amandine de cuidados até à sua morte”.

Em 06 de agosto de 2020, no dia em que morreu de paragem cardíaca e septicemia na casa da família durante o confinamento da covid-19, Amandine, que tinha 1,55 metros de altura, pesava apenas 28 quilogramas, após ter sido fechada durante semanas numa arrecadação sem janelas e privada de comida e bebida.

O julgamento, que teve início na segunda-feira em Montpellier, mostrou “o horror, o impensável, o indescritível”, disse Jean-Marie Beney, referindo-se a uma “ditadura familiar” em que, desde muito jovem, Amandine foi “espancada, esmurrada, pontapeada, agredida com uma vassoura, teve os seus cabelos arrancados, gritos, insultos e empurrada repetidamente”.

O procurador-geral detalhou ainda um desejo de “destruir a sua personalidade”, com “violência, (…) sermões intermináveis”, tortura com isolamento e “nudez forçada a uma rapariga de 13 anos” por parte da mãe da adolescente.

Nos últimos anos, Sandrine Pissara negou que a filha tivesse sido vítima de maus tratos, mas durante o julgamento admitiu a violência “entre 2014 e 2020” e “os atos de tortura e de barbárie cometidos entre 17 de março e agosto” daquele ano.