“Pediu-me que enviasse um recado aos jornalistas e os avisasse que é candidatíssimo”, afirmou o ex-frade franciscano Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação, depois da visita que fez hoje a Lula, um seu “velho amigo”, que lidera todas as sondagens para as próximas eleições presidenciais.
“Lula avisou que só renuncia à candidatura no dia em que (Sérgio) Moro (o juiz que o condenou) apresentar uma única prova de que é o dono do apartamento; que enquanto, não houver provas, continua a ser candidato, porque quer voltar a governar para favorecer os pobres”, acrescentou Boff, que teve de esperar vários dias até ser autorizado a visitar o ex-chefe de Estado.
Sérgio Moro deu por provado que Lula recebeu um apartamento de três pisos numa praia do Estado de São Paulo como suborno por ter favorecido a construtora OAS com contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
Além da sua prisão para cumprir a condenação de 12 anos por corrupção e lavagem de dinheiro e de outros seis processos penais que enfrenta, a candidatura de Lula está ameaçada por uma lei que inabilita eleitoralmente condenados em segunda instância.
Apesar de esta inabilitação, o Partido dos Trabalhadores (PT), a formação que Lula fundou e lidera, já garantiu que vai inscrever a sua candidatura presidencial em agosto.
O partido pretende também apresentar recursos no Tribunal Superior Eleitoral e no Supremo Tribunal Federal, para que lhe seja possível disputar as eleições, apesar de condenado em segunda instância, isto é, inabilitado.
Boff deu a entender que Lula não considera isto como um obstáculo e afirmou que Lula lhe pediu para dizer que é candidato e que, se vencer as eleições, vai repetir “as políticas para favorecer os mais pobres” dos seus dois mandatos e que as vai converter em “políticas de Estado”.
Segundo este teólogo, o ex-chefe de Estado, apesar de estar isolado numa cela, em que só conversa com a pessoa que lhe leva a alimentação, está muito bem, com “entusiasmo e vigor”, e tem tempo para ler e refletir.
Acrescentou que Lula também se disse “muito indignado” com as acusações que lhe fazem e que só pretendem impedir que regresse à Presidência.
“Garantiu que são um monte de mentiras e que quer que provem uma delas para que possa ser realmente condenado. Acrescentou que se alguém disser que lhe entregou cinco centavos, lhe dirá que é mentiroso, porque nunca recebeu nada de ninguém”, afirmou.
Segundo Boff, Lula está justamente indignado “pelas falsificações, distorções e mentiras não só para impedir a sua candidatura e debilitar o PT, como também para desmoralizar um projeto (político) que tem uma dimensão social inegável”.
Pouco depois da conferência de imprensa na qual o teólogo divulgou o conteúdo da conversa com Lula, a presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, divulgou um comunicado no qual explicou por que razão o partido não renuncia à candidatura do seu líder máximo, apesar dos vários obstáculos.
“Conhecemos a sua vida dedicada ao povo brasileiro e conhecemos os vícios, as falas e as arbitrariedades do processo que o condenou. Polícias, procuradores e juízes parciais atuaram com objetivos políticos em cumplicidade com a rede Globo (a televisão com maior audiência) e os grandes meios para retirar Lula do processo eleitoral”, afirmou a senadora.
Segundo a parlamentar, o PT está convicto de que a condenação vai ser anulado, o que lhe vai permitir disputar as eleições.
“Se Lula é inocente, se a maioria do povo quer votar nele, se os seus direitos políticos estão garantidos na Constituição, por que não o haveríamos de apresentar como candidato?”, questionou a dirigente do PT.
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