“Portugal deve fazer a sua parte”, disse aos jornalistas Catarina Martins, à margem de uma visita à urgência pediátrica de Torres Vedras do Centro Hospitalar do Oeste, no distrito de Lisboa.
A coordenadora do BE defendeu que, à semelhança do que está a fazer a justiça angolana, também a “justiça portuguesa tem de atuar, porque o roubo que foi feito ao povo angolano foi também feito com crime económico em Portugal”.
“O Governo português deve também fazer a sua parte, porque os interesses de Isabel dos Santos em empresas portuguesas da indústria, da finança, da energia, em Portugal, neste momento, deixam as empresas em dificuldades” e o Governo “tem de garantir o funcionamento dessas empresas que são tão fundamentais à economia portuguesa”, considerou.
Para Catarina Martins, “a atuação tarda e deve ser rápida e ter resultados”.
Catarina Martins lembrou que Isabel dos Santos tem como parceiros de negócios vários grupos económicos, como o BPI, o grupo Sonae ou Amorim e que “quando comprou a Efacec, a participação na Galp ou no BPI fez com dinheiro que roubou ao povo angolano”.
“O assalto que foi feito ao povo angolano foi feito com lavagem de dinheiro em Portugal, com a cumplicidade da elite política e económica”, sublinhou a líder do BE.
Catarina Martins reafirmou que o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, “não tem condições para estar à frente do Banco de Portugal”, justificando que “o que houve ao longo dos últimos anos foi uma cumplicidade inaceitável entre o poder político e o poder económico, entre representantes de governos PS e PSD com o poder angolano e entre os grandes grupos económicos portugueses”.
Um consórcio de jornalismo de investigação revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de "Luanda Leaks", que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra vários órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso e a SIC, analisou, ao longo de vários meses, 356 gigabytes de dados relativos aos negócios de Isabel dos Santos entre 1980 e 2018, que ajudam a reconstruir o caminho que levou a filha do ex-Presidente angolano a tornar-se a mulher mais rica de África.
Durante a investigação foram identificadas mais de 400 empresas (e respetivas subsidiárias) a que Isabel dos Santos esteve ligada nas últimas três décadas, incluindo 155 sociedades portuguesas e 99 angolanas.
As informações recolhidas detalham, por exemplo, um esquema de ocultação montado por Isabel dos Santos na petrolífera estatal angolana Sonangol, que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para o Dubai.
A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eurobic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária.
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