“Não posso esquecer o erro histórico daqueles a quem pedi armas há apenas oito dias, em Cabul. Eles recusaram-me. E estas armas, esta artilharia, estes helicópteros, estes tanques de fabrico norte-americano estão hoje nas mãos dos talibãs”, afirmou, numa entrevista publicada pela revista francesa Paris Match.
A entrevista, citada hoje pela agência France-Presse (AFP), foi realizada por telefone em 21 de agosto, a partir do vale do Panshir, uma região situada a cerca de 150 quilómetros a nordeste de Cabul, onde se concentra a resistência aos talibãs.
Ahmad Massoud, 32 anos, é filho do comandante Ahmed Shah Massoud, uma figura icónica da resistência afegã, que combateu os soviéticos ((1979-1989) e os talibãs, antes de o movimento sunita radical ter governado o Afeganistão (1996-2001).
Conhecido por “Leão do Panshir”, Ahmed Shah Massoud foi assassinado em 9 de setembro de 2001, por atacantes suicidas da Al-Qaida que se fizeram passar por jornalistas.
Logo após os talibãs terem retomado o poder com a conquista de Cabul, no passado dia 15 de agosto, Ahmad Massoud apelou aos Estados Unidos para que fornecessem armamento à resistência afegã.
Os Estados Unidos lideraram a intervenção internacional no Afeganistão, em 2001, e mantêm cerca de 6.000 soldados no aeroporto de Cabul em operações de resgate de estrangeiros e afegãos.
A saída das forças dos EUA e dos seus aliados terá de ser feita até 31 de agosto.
Nos últimos 20 anos, a comunidade internacional equipou as forças armadas afegãs e algum do equipamento terá caído nas mãos dos talibãs.
Nas declarações ao Paris Match, Ahmad Massoud reafirmou que a resistência não deixará de lutar, mas manteve a disponibilidade para dialogar com os talibãs.
“Falar é uma coisa. Podemos falar. Em todas as guerras, nós falamos. Mas a rendição é outra coisa “, disse Massoud, que se descreve como um “homem de paz”.
Questionado sobre rumores da rendição dos seus combatentes aos talibãs, Ahmad Massoud descreveu-os como “propaganda e desinformação”.
“Não se trata de parar a luta. A nossa resistência aqui em Panshir só agora começou”, disse à Paris Match, citado pela AFP.
Os talibãs disseram na segunda-feira que tinham cercado Panshir, mas que preferiam as negociações à luta.
Durante os cinco anos em que estiveram no poder, entre 1996 e 2001, Panshir foi um dos poucos territórios que os talibãs nunca controlaram.
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