Alguns dos paroquianos não resistiram a ficar ao lado do carro, alguns num banquinho, ou a espreitar pela janela, mas a maioria assistiu dentro da viatura, muitos deles com máscaras, à missa de Pentecostes que hoje se realizou ao final da tarde, de uma forma que o padre António Vicente Gaspar reconheceu ser “original”.
“Hoje viestes de carro, exatamente nesta transição que queremos fazer para missas habituais, campais, no parque de jogos, sempre que o tempo permitir, mas hoje, e unicamente neste domingo, desta forma original”, disse, sublinhando que a ideia foi “não parar a fé” e “não deixar de levar ânimo a cada um”.
Saudando as centenas de pessoas que assistiram à missa, respeitando as instruções dos Bombeiros Voluntários de Alcanede, com um “já tinha saudades vossas”, o pároco salientou o facto de realizar esta eucaristia num dia de “festa tão significativa no calendário cristão”, o Pentecostes, que significa “precisamente sair para fora”.
A celebração decorreu num altar montado na traseira de um camião da freguesia, o qual, além do padre, com as vestes vermelhas (que simbolizam as línguas de fogo), teve lugar para as irmãs Joana e Catarina Costa, que, com uma guitarra, fizeram o acompanhamento musical da missa.
Tendo em conta as restrições impostas pela pandemia da covid-19, as pessoas que subiram ao altar foram todas da mesma família, tendo as leituras das escrituras sido feitas pela mãe, Alda, e pelo pai, Nuno, das jovens, disse o padre à Lusa.
Ao lado do altar, ficou a carrinha dos Bombeiros Voluntários de Alcanede, transportando a imagem de Nossa Senhora de Fátima no tejadilho, rodeada de flores, recebida ao som das buzinas dos carros que ocuparam praticamente todo o largo, o mesmo som que acompanhou a sua saída, no final da missa, com uma despedida feita com acenos de mão e algumas máscaras a servir de lenço.
Ao fim dois meses e meio sem missas, muitos não esconderam a emoção.
Clarinda Pereira disse à Lusa que sentia muita falta das missas a que assistia todos os dias em Lisboa, de onde veio para a casa que tem em Vale da Trave, na freguesia, assim que começaram as notícias sobre a pandemia.
Sentada no lado do pendura do carro conduzido por Clarinda Pereira, ambas confessaram que durante o mês de maio assistiram todos os dias ao terço que a paróquia rezou com divulgação no Facebook, saudando a iniciativa do padre de Alcanede, vila sede da freguesia situada no extremo norte do concelho de Santarém.
Para não quebrar as regras, a comunhão de hoje foi “espiritual”, com Alda a ler a oração do papa Francisco para que, em vez da habitual hóstia, cada um dos fieis pudesse “receber Jesus no coração”.
Na próxima missa, campal, já haverá comunhão, com a deposição da hóstia na mão, “conforme as regras”, salientou o padre.
António Vicente lembrou na sua homilia os paroquianos que passam dificuldades, em particular o que lhe confessou preocupação com a forma como vai alimentar os dois filhos nos próximos tempos, e o profissional do som que, mesmo sem as festas e as romarias que sustentam o seu negócio, não aceitou pagamento pelo sistema que permitiu a realização da celebração de hoje.
Lembrando que o país está num processo de saída do confinamento, o padre pediu aos paroquianos para serem “cautelosos”, para usarem máscara e cumprirem as regras neste regresso “pouco a pouco”.
As missas em junho vão realizar-se aos domingos, às 19:00, no campo de jogos, seguindo as recomendações da Direção Geral da Saúde.
Com um apelo ao bom senso da população, foi pedido que tragam as suas próprias cadeiras e que respeitem o distanciamento social, sendo obrigatória a desinfeção das mãos e o uso de máscara.
Se chover, a missa será na igreja matriz, aí com regras “mais apertadas”.
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