Em entrevista à RTP, em Luanda, quando questionado sobre a possibilidade de tentar um segundo mandato, em 2022, e embora admitindo depois que “é cedo para se falar” no assunto, João Lourenço traçou o cenário: “Se até lá estiver de boa saúde, em princípio vou concorrer”.
General na reserva e com 65 anos (que completa na terça-feira), João Lourenço liderou a lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) às eleições gerais angolanas de 23 de agosto de 2017, que venceu com 61% dos votos, tendo sido empossado em 26 de setembro do mesmo ano.
Tornou-se o terceiro Presidente de Angola desde a independência do país, em 1975, sucedendo a António Agostinho Neto (1975/1979) e José Eduardo dos Santos (1979/2017).
Sobre o estado em que encontrou o país em setembro de 2017, João Lourenço foi claro: “Não encontrei bem. O país não tinha saúde financeira”.
Rejeitando usar a expressão “bancarrota” sobre o país que recebeu de José Eduardo dos Santos, o Presidente angolano apontou como motivos da situação a falta de diversificação da economia, que continua assente na exportação de petróleo.
“O caminho é este. O ambiente propício ao investimento está aí, foi criado em tempo recorde. Em pouco mais de um ano, combatemos os monopólios, estamos a fomentar a concorrência entre as empresas e com este novo ambiente temos a garantia de que é uma questão de tempo, vamos aumentar a quota do setor não petrolífero na economia nacional”, disse, estipulando a agricultura, a indústria, as pescas e o turismo como “prioridades”.
Sobre o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), João Lourenço afirmou que o apoio, que conta com um envelope financeiro de 3.700 milhões de dólares (3.300 milhões de euros), não impõe medidas de austeridade, como noutros programas daquela instituição internacional.
“Não vão acontecer em Angola pela simples razão que este programa não é do FMI. Este programa é do executivo angolano e que o FMI abraçou e entendeu apoiar, através da assistência financeira e não só, técnica também. Por essa razão, todas as medidas de austeridade que existem foram autoimpostas. Ou seja, é o próprio executivo angolano que, mesmo antes de chamar o FMI, autoimpôs-se e acabou por, depois, merecer o aval do credor, neste caso o FMI”, explicou.
João Lourenço sucedeu em setembro último, igualmente, a José Eduardo dos Santos na liderança do MPLA e, desde então, que as relações entre ambos se deterioraram, nomeadamente com a detenção do filho do ex-Presidente José Filomeno dos Santos e com as críticas públicas de João Lourenço à forma como a transição foi conduzida pelo anterior chefe de Estado.
No primeiro ano de mandato, o Presidente angolano afastou pelo menos 230 governantes, administradores de empresas públicas e altas chefias militares, a um ritmo de uma exoneração a cada dois dias, valendo-lhe a alcunha popular de “exonerador implacável”.
Quase metade destas exonerações envolveu altas patentes das Forças Armadas Angolanas ou das forças de segurança.
Em paralelo, desde que chegou ao poder, João Lourenço promoveu cerca de 400 nomeações, as quais, a par das exonerações, permitiram, no espaço de um ano, afastar do poder praticamente todos os que tinham sido nomeados, alguns poucos meses antes das eleições de agosto de 2017, por José Eduardo dos Santos, chefe de Estado desde 1979.
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