“Em números redondos, 450 deputados votaram [uma proposta de emenda constitucional a favor do voto impresso] ontem [terça-feira]. Foi dividido: 229 [a favor], 218 [contra]. É sinal de que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE. Não acreditam que o resultado ali no final seja confiável”, disse hoje Bolsonaro a apoiantes, em Brasília.
Em causa está uma votação ocorrida na noite de terça-feira, em que a Câmara dos Deputados do Brasil rejeitou um projeto de lei que pretendia instituir o voto impresso no país.
O projeto foi apresentado como emenda constitucional e, portanto, exigiria a aprovação de pelo menos três quintos dos membros da Câmara dos Deputados, ou seja, de 308 do total de 513 parlamentares. Com a decisão do plenário, a proposta será arquivada.
Com a derrota da proposta que era amplamente defendida por Bolsonaro, o chefe de Estado voltou a colocar em causa os resultados das eleições brasileiras, sem apresentar qualquer prova.
“Sinalizamos uma eleição, não que está dividida, mas de onde não se vai confiar nos resultados das eleições”, acrescentou Bolsonaro, que nos últimos meses tem reiterado a sua oposição ao sistema de votação eletrónica que vigora no país há duas décadas e tem alimentado teorias sobre alegadas fraudes eleitorais — não comprovadas – que teriam ocorrido e que podem repetir-se caso o voto impresso não se concretize.
Jair Bolsonaro atribui ainda a derrota do projeto sobre o voto impresso ao medo de “retaliação” e “chantagem”.
“Tirando os partidos de esquerda, dos que votaram contra, muita gente votou preocupada e resolveram votar com o presidente do TSE [Luís Roberto Barroso, crítico do voto impresso]. Os que se abstiveram, numa votação ‘online’, (…) também ficaram preocupados com retaliações”, disse Bolsonaro à saída do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial.
“Quero agradecer a metade do parlamento que votou favorável ao voto impresso. Parte da outra metade, que votou contra, entendo que votou chantageada”, completou.
Sem citar diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro afirmou que a rejeição pelo voto impresso visa “eleger, na fraude, uma pessoa que há pouco tempo esteve à frente do executivo e foi uma desgraça o que aconteceu”.
O chefe de Estado tem sustentado que o sistema de voto impresso favorece fraudes que, segundo disse, ocorreram nas anteriores eleições, inclusive nas que o levaram ao poder em 2018. Contudo, Bolsonaro continua sem apresentar provas das acusações que tem feito.
Nesse sentido, o TSE abriu um processo administrativo contra o Presidente e pediu que este seja investigado pelo Supremo Tribunal Federal por supostamente cometer atentados à democracia e divulgar informações falsas.
A pressão de Bolsonaro pelo voto impresso aumentou à medida que a sua popularidade caiu nas sondagens eleitorais, que classificam Lula da Silva, o seu maior adversário, como favorito para 2022.
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