"O que fizemos em Israel pode ser adaptado a qualquer país, o que interessa é o conceito, adaptando-o aos parâmetros nacionais”, afirmou o professor da Universidade Ben-Gurion.

Eilon Adar será um dos especialistas convidados do 2.º Fórum Internacional GTM - Gaia Todo um Mundo, que decorre entre quinta-feira e domingo, em Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, este ano com enfoque na cooperação para o desenvolvimento sustentável.

Convidado para intervir no painel sobe o tema "Recursos hídricos: os desafios para a sustentabilidade e sobrevivência do homem", o académico israelita concedeu uma entrevista à Lusa em que descreveu o método de reutilização de água que sustentou o nascimento e desenvolvimento do estado hebraico e permitiu dar resposta aos milhares que então chegavam a Israel.

"Em Israel utilizamos mais água do que aquela que a natureza nos dá", descreveu o professor, recordando uma preocupação "anterior à criação de Israel" e que hipotecava "que o país recebesse mais gente da diáspora".

Cientes da dimensão da tarefa que tinham pela frente, "tornou-se numa espécie de obsessão” provar que eram “capazes de produzir mais com menos", enfatizou.

Pelo caminho, perceberam que "o modelo europeu de utilização de água não funcionava em regiões áridas ou semiáridas" e o passo seguinte foi "criar um sistema unificado de fornecimento de água, retirando-a do rio Jordão, misturando-a com a do mar e dos aquíferos de montanha para criar uma só rede de abastecimento".

Cientes, já em 1964, que "confiar no rio Jordão, devido às flutuações climatéricas, era muito arriscado", o país criou a autoridade nacional para a água, disciplinando o consumo segundo o princípio de que "a água, tal como o gás natural, é uma dádiva da natureza".

No mundo "as pessoas estão habituadas a pagar o gás e o combustível, mas continuam a pensar que a água é grátis, logo não há qualquer incentivo para salvar a água", argumentou Eilon Adar, frisando ter sido Israel "o primeiro país no mundo a considerar a água uma comodidade, incentivando o seu uso da melhor maneira possível em todos os setores da sociedade".

A importância da água voltou a pesar quando na década de 1990 perceberam que tinham de ter mais água ou a "economia iria abrandar", saindo a solução do "desenvolvemos de tecnologias que permitem hoje recuperar e reutilizar 87% da água municipal consumida", sublinhou o académico.

Neste processo, a aplicação em escala massiva do que estava a ser estudado desde 1957, "o processo de dessalinização da água do mar", levou a que no final de 2000 fosse autorizada a construção de infraestruturas para o efeito.

"Hoje em dia temos cinco megaestruturas no país e foi esse percurso que nos levou a contornar a escassez de água em Israel, sendo que hoje também vendemos água aos palestinianos", disse.

Segundo Eilon Adar é a "Espanha, com percentagens de 27 ou 28%" quem mais reutiliza água na Europa a seguir a Israel, sendo que "mais ninguém na Europa se aproxima desse registo".

Questionado pela Lusa onde se verifica o maior desperdício de água, o professor respondeu que "varia conforme o país" e deu como exemplo recente a Califórnia, nos Estados Unidos (EUA), "onde até há bem pouco tempo, pagava-se o mesmo fosse qual fosse o consumo mensal da água, enchesse dez piscinas ou nenhuma".

Já sobre Portugal, referiu que “tem muito mais água no Norte do que Israel no país todo, tem diferentes necessidades e sistemas diferentes".

"Venham até cá, estudem-nos e adaptem à vossa realidade", apelou.